sábado, 26 de dezembro de 2009

Sem plumas


Não resolvi ler Woody Allen. Nem com a Ariel falando que é bacana nem nada. A Bárbara simplesmente me chegou com aquele livrinho amarelo e simpático, dizendo que se eu gosto dos filmes, gostaria também de ler.
Sendo dócil e bem mandada como sou, aceitei a sugestão e li cada uma das histórias, dos ensaios e das peças de teatro. A mesma ironia dos filmes. Aquele humor inteligente que te traz um riso de canto de boca. Está tudo lá.
Em destaque, coloco uma peça de nome "Deus". Ariel disse há uns posts atrás que o Woody coloca até a Madame Bovary no meio da sua bagunça em "Que loucura!". Em Deus, de repente aparece Blanche DuBois (de Um Bonde Chamado Desejo, coincidentemente o post abaixo)fugida do manicômio e procurando uma peça nova para si. Alguém levanta da platéia e passa a fazer parte da história. O personagem não quer fazer o que o autor manda e então eles ligam para o Woody Allen, por que todo mundo sabe que não existe. Os protagonistas são gregos que se chamam Hepatitis e Diabetes.
Como é que uma peça dessas pode ser montada? E como é que isso pode não ser divertido?
É sem saída mesmo. Divertidíssimo.
Não vou entregar mais nada do livro.
Mas, se a Bárbara resolver ler esse post, bom que ela saiba que eu pedi que lhe entregassem o livro.

sábado, 21 de novembro de 2009

Um bonde chamado desejo




Tarde da noite. Estávamos num bar, eufóricos, eloqüentes e ligeiramente bêbados. Danilo e eu na mesa. Entre um assunto e outro, percebemos Lígia. Lígia estava sentada sozinha em uma outra mesa, ao lado da caixa de som do boteco. Ouvia Sérgio Sampaio (como todos nós), bebericava um vinho tinto e lia compulsivamente, anotando coisas. Danilo e eu não entendemos por que uma pessoa faria um fichamento numa noite quente sentada num boteco na Rua da Lama. Levantamos e fomos saber que livro era aquele e por que cargas d’água ela parecia tão interessada. Era “um bonde chamado desejo”. Lígia era atriz e tinha que ensaiar um trecho da peça do Tennesse Williams. Nós observamos o ensaio e tivemos boas conversas.
Faz mais ou menos um ano que eu conheci a Lígia e antes disso eu já sabia que o livro existia. Livro e filme com Marlon Brando. Acontece que foi hoje que o livro surgiu na minha frente quando eu estava procurando nada no sebo. Comprei imediatamente. Li compulsivamente.
Então a Lígia começou a fazer sentido. Por que “Um bonde chamado desejo” é bom de ser lido com vinho na mão e como quem toma vinho. Os cuidados são os mesmos para o vinho e para o livro. Ler “um bonde chamado desejo” sem tomar água nos intervalos causa embriaguez instantânea. Atordoa. Não tem outra definição: é do caralho.
Eu não sei quem de vocês já tentou estudar teatro ou construir personagens. Mas deparar-se com uma Blanche DuBois na frente é no mínimo fascinante. Imagine uma mulher fina que, de peixe fora d’água na periferia, vai se mostrando cada vez mais louca. Sem contar o relacionamento de Stella e Stanley, que parecem vivos. E cada uma das sutilezas das relações entre todos os personagens deve ser degustada com calma, mesmo que o livro peça para ser engolido de uma vez só.
É sentimento demais. Os diálogos são tão bons que a história poderia ser uma porcaria, mas não é o caso. É porrada. Cachaça goela a baixo. É coisa pesada, mas nada difícil. Linguagem simples. Palavras certeiras. E todo aquele sentimento, aqueles conflitos. Aquela emoção. O sangue da gente subindo e uma cola automática entre a nossa mão e o livro.
Por que não vai sair. Não tem como largar antes do fim. Não tem como passar ileso. Não tem como tomar golinhos de leve. Lígia fez bem. Se embriagou de tudo de uma vez.







Aqui, o resumo do livro, lá na wikipédia.


Aqui, um comentário sobre o filme "Uma rua chamada pecado" (que é "um bonde chamado desejo" em português), no blog o cara da locadora.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A sátira de Gregório de Mattos e a demologia negativa de Guimarães Rosa em debate no XI Congresso de Estudos Literários

Por Brunella França

Guimarães Rosa e Gregório de Mattos iniciaram o segundo dia de atividades do XI Congresso de Estudos Literários, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo e organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras. Na conferência da manhã, o professor doutor em Literatura Comparada, Luís Eustáquio Soares (Ufes) e da professora doutora em Literatura Comparada, Ana Lúcia de Oliveira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Dentro da temática desta edição do Congresso, Pessoa, persona persoagem, Oliveira apresentou as configurações da persona satírica na “musa praguejadora atribuída a Gregório de Matos. A professora, em sua fala, buscou problematizar o conceito pós-romântico de literatura ao abordar a noção de autoria relacionada à obra do poeta.

Ela destacou também o diálogo com a tradição retórico-poética Greco-romana mantido por Gregório em sua poesia. A partir da análise de alguns poemas do autor, Ana Lúcia de Oliveira revelou as diferentes configurações da persona satírica seiscentista, na qual convergem várias representações sociais da época.

A traição a-Deus
O diabo na rua, no meio do redemoinho. O professor-doutor Luís Eustáquio logo avisou que sua fala, assim como a obra de Graciliano Ramos, estaria permeada de enxofre. Isso porque no trabalho apresentado por ele na conferência, O corpo barroco de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, a traição a-Deus, um dos principais elementos expostos era sobre a demologia negativa.

A negação, segundo explica Soares, começa logo pela palavra que inicia a narrativa. “Nonada”. O pesquisador afirma que não podendo falar de Deus, sendo finitos e mortais, fala-se dele por aquilo que ele não é. “Deixamos Deus quietinho e o diabo a gente fica questionando”.

Tendo em vista o pacto que o personagem Riobaldo fez com o Diabo, o professor procurou mostrar procurar como o narrador de Grande Sertão: Veredas trai a soberania, logo “a-Deus”, ao assumir-se como alteridade. “Riobaldo não é mais sacrificável e objetável, pois, a partir do pacto, engaja-se – eis aqui a ficcionalidade da narrativa – no roubo da transcendência soberana, produzindo uma metafísica de alteridades sem soberanias, através do signo contraditório das artimanhas e estratégias dissimuladas do demo”, esclarece.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Congresso de Estudos Literários acontece essa semana na Ufes


Dia 5 e 6 de novembro, acontece o Décimo Primeiro Congresso de Estudos Literários Realizado pelo programa de pós-graduação em Estudos Literários da Ufes. O tema deste ano é “Pessoa, persona, personagem”. Haverá conferências e apresentações de trabalhos divididos entre manhãs, tardes e noites dos dois dias, no auditório do ICII, no prédio Bernadette Lyra e nas salas do ICIII.

O objetivo do evento é proporcionar uma reflexão sobre a literatura, levando em conta os seus processos de constituição e a sua indissociabilidade em relação à história, à cultura, à sociedade. Assim, o tema pessoa, persona e personagem, será discutido tendo em vista que são elementos decisivos para a leitura, interpretação e compreensão de textos literários e afins.

Segundo um dos coordenadores do evento, professor Paulo Roberto Sodré, a análise do que é pessoa, o que é persona e o que é personagem é um dos pontos mais polêmicos do estudo da literatura. Dessa forma, o congresso deve se atentar para como essas figuras são tratadas na Literatura e na Crítica, observando como as pessoas são representadas de acordo com raça, classe social e sexualidade, por exemplo, e as relações entre personagem e autoria.

Um dos destaques da programação será a presença do professor Antônio Tillis, do Dartmouth College, EUA, com a conferência “la literatura afro-latinoamericana y las realidades afro-diaspóricas”. Tillis encerrará o evento, na noite do dia 6, falando sobre a Literatura como instrumento de luta política contra a invisibilidade.

A programação completa e os resumos dos trabalhos a ser apresentados estão disponíveis no site.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A crítica literária, os palpites irresponsáveis e principalmente eu.

Estive ontem em um Debate-papo realizado na Biblioteca Estadual do Espírito Santo. O assunto era a obra do jornalista e escritor José Roberto Santos Neves. Acontece que José Roberto também é editor do caderno de cultura de A Gazeta e a conversa acabou girando muito em torno disso.
Falaram muito na ausência de crítica literária nos jornais e em certo ponto eu entendi que estavam culpando a universidade por não formar críticos ou não divulgar a produção nessa área. E isso é grave, por que o escritor mesmo disse que a crítica não pode ser apenas um palpite irresponsável, como muito acontece na internet(e como eu gosto muito de fazer).
Mas eu sou desses piolhos das letras que fica lá pelo Centro de Ciências Humanas e Naturais procurando professores, conversando e caçando sarna pra me coçar.
E nesses congressos e aulas e conversas em que estive com pessoas que de fato estudam literatura, eu vi produção sim. Coisa por vezes inócua(como o que eu consegui produzir com esta carga ótima de jornalista). Mas havia também uma produção consistente, estudos meticulosos e principalmente paixão.
Então surge outro problema, nessas minhas aventuras, eu fui ler críticas acadêmicas e com toda a minha humildade eu não acho que aquilo tudo caiba num jornal.
Imagine você, leitor, abrir um caderno no café da manhã e deparar-se com análises minuciosíssimas de versos de poemas, rimas, métricas, todas as possíveis camadas de sentido!
Não! Eu estou contaminada pelas capas multicoloridas com fotos enormes e principalmente fofocas.
Pensar numa crítica mais mole(no sentido de simples, não de mole) e curta talvez pareça uma solução plausível a curto prazo.
Acontece que eu acho que o problema está comigo, que tirada um pouco da pesadíssima linguagem acadêmica de segundo beutrano página tal ano tal, uns ensaios longos bem caberiam no meu café da manhã.

Agora, se quiser parar de ler este texto, fique à vontade. Começam aqui as minhas reflexões sobre a vida, esse boteco e tudo mais.
Qual é a minha com esses palpites descompromissados sobre livros? É claro que a paixão conta e a tentativa de captar esta virtualidade tão psicopata, assustadora e deliciosa é fundamental. Mas o principal são os livros. O que eu gosto mesmo é de me derreter, roer as unhas, parar de respirar, torcer, querer que acabe logo. Ai. Eu gosto mesmo é dessa angústia de narrativa que só os livros me despertam.
E se a paixão faz crítica, eu não sei.
Até acho que não.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Pai do Sadismo


Ao contrário das místicas que faziam de seu corpo o instrumento de salvação divina, os libertinos, insubmissos e rebeldes, buscavam viver como deuses e, portanto, libertar-se da lei religiosa, tanto pela blasfêmia quanto por práticas voluptuosas da sexualidade. O exemplo de toda uma geração da descoberta do sexo no Iluminismo europeu, foi Donatien Alphonse-François, comumente conhecido como Marquês de Sade, o pai do sadismo.
Nasceu em Paris, em 1740, e durante toda a sua vida foi censurado por Napoleão II e pelo Clero sobre suas obras “perversas”. Depois de ser preso diversas vezes, o seu título de Marquês, (e com a ajuda da segunda mulher) lhe serviu para em vez de continuar na prisão, ir para o sanatório de nome Charenton, onde morreu em 1814, depois da autoflagelação e sodomia.
Enquanto estava em Charenton, escreveu uma de suas maiores obras chamada “Justine ou Os Infortúnios do Amor”, que foi vendido clandestinamente por toda França, sendo proibido logo em seguida por Napoleão II, o que não funcionou como previsto, uma vez que muitas cópias foram feitas mesmo antes de Napoleão as queimá-las em praça pública.
Na vida e na literatura o Marquês foi coerente. Se por um lado passou a vida em prisões, pagando por crimes de licenciosidade (que na verdade nunca ocorrera), perversões, violência sexual, etc, por outro lado legou à história uma obra ampla e complexa, testemunha de seu tormento sexual, estudado até nos dias de hoje pelos maiores psicanalistas, inclusive por sua qualidade inquestionável.
Escreveu entre outros livros “Diálogo entre um Padre e um Moribundo” (1782), “Os 120 em Sodoma” (1785), “Justine” (1788), Filosofia na Alcova (1795),“Os Crimes de Amor” (1800), “O Marido Complacente” (final do séc. XVIII), que ao contrário dos outros livros, é uma reunião de contos escritos com exímia técnica – uma característica do próprio – e uma amostra fiel de seu universo literário e totalmente pessoal.
Marquês de Sade escrevia contos “perversos” de maneira que demonstrava de certa forma, o que acontecia na França e na Itália (Veneza) na época, retratando um pouco em suas obras sua passagem pela Revolução Francesa. Sade é o puro hedonismo encarnado.
E é em São Paulo, na Praça Roosevelt no bairro da Consolação (praça muito conhecida por seus teatros e freqüentadores), no Teatro Espaço dos Satyros, que três obras de Sade foram adaptados para o teatro. Entre eles estão “Os 120 dias em Sodoma”, “Justine” e “Filosofia na Alcova”. O preço do ingresso não passa dos R$ 30,00. Estão em cartaz há um tempo razoável e não se sabe até quando continuam. Contam com a presença de ótimos atores e de acordo com a crítica as peças são um tanto fiéis aos livros. Por isso, um pequeno aviso, como já diria o ilustre Marquês: “Qualquer puritanismo, deixe-o, por favor, do lado de fora do teatro”.
Não só no teatro, mas se encontra Sade também no cinema, em “Os Contos Proibidos de Marquês de Sade”, (no título original, “Quills” de 2000), do diretor Philip Kaufman, e Geoffrey Rush no papel de Sade, fazendo um grande trabalho e também muito aclamado pela crítica.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Muito Soneto Por Nada

É claro que o título me chamou a atenção. Mas se trata de um livro difícil de achar. Sabia que existia já tinha um tempo, mas eu mesma só peguei pra ler por tê-lo ganhado em um sorteio no @viceverso.
Então ele ficou encalhado lá em casa até eu resolver dar uma folheada e começar a ler soneto por soneto.
Aí aconteceu que eu finalmente consegui ler um livro de poemas inteirinho numa cajadada só.
São 50 sonetos para a musa Jose que tratam de flerte, conquista, amor, sexo e coca-cola.
Mas o interessante é que o autor, Reinaldo Santos Neves, é um romancista e se mostra poeta divertido e instigante.
Enfim, sempre gosto das coisas que o Reinaldo escreve.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Poesia nas ondas do rádio


No dia 5 de agosto (amanhã), estreia o programa Vice Verso, uma experimentação que pretende levar mais música e poesia para as ondas do rádio. O programa irá ao ar na Rádio Universitária 104.7 toda quarta-feira, às 20 horas, sob o comando do estudante de comunicação Ítalo Galiza e da estudante de letras Jamille Ghil.

Segundo Galiza, o programa veio da proposta de levar para o rádio a relação entre música e poesia de maneira performática e resignificadora. “Poesia foi feita para ser ouvida. E muitas pessoas apenas leem. Além do que, outros consideram poesia algo chato ou difícil de entender”, conta.

Jamille acredita que levar a poesia para o rádio é uma forma de popularizá-la. “Na verdade, a poesia está no nosso cotidiano, mas é tratada, muitas vezes, de forma elitizada e acessível apenas a quem pode comprar um livro”, explica a estudante.

Ítalo ainda conta que o Vice Verso não foi inspirado em nenhum outro programa e que se trata de um espaço de valorização de artistas do estado e do país. Inclusive, o programa de estreia contará com a participação de dois atores, Welerson Grassi e Priscilla Queiroz, que farão junto com os apresentadores uma leitura radiofônica de um trecho da peça “O rei da Vela”, de Oswald de Andrade, durante o programa.

O primeiro programa desta temporada será sobre a Tropicália. Segundo Jamille, o tema foi escolhido por ter sido esse um movimento cultural de experimentação, o qual reuniu música, poesia, teatro, artes plásticas, dentre outros. “A mistura de linguagens carácterística da Tropicália tem muito a ver com a proposta do Vice Verso”, explica.

A escolha dos temas do programa passa por várias etapas, que incluem pesquisa teórica e de áudio e a preocupação com o interesse público do assunto. Ítalo ainda afirma que cada programa segue uma linha diferente na hora de montar o roteiro,“nossa intenção não é fazer um programa didático, mas sim, mostrar a visão poética sobre determinado assunto”, conclui.

Para o diretor da Rádio Universitária, Leonardo Lopes, o Vice Verso é um programa de vanguarda que possibilita uma experiência inovadora não só para a Universitária, mas para o Rádio em geral.

O Vice e Verso começou como um quadro de meia hora que ia ao ar uma vez por mês dentro do programa Bandejão 104.7 e já abordou, por exemplo, o rap como manifestação poética e os textos do poeta Casé Lontra Marques.


E para ouvir: www.universitariafm.com.br

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O canto da Sereia


Uma cantora baiana é assassinada em plena terça-feira gorda em cima de um trio elétrico e pára o carnaval da Bahia. Esse é o ponto de partida do romance de estréia do jornalista Nelson Motta, O canto da Sereia. Além de ter um ritmo gostoso e a leitura ser extremamente fácil, o livro também tem um final previsível.
Ainda assim, vale à pena ler do começo ao fim e degustar as boas sacadas do narrador Augustão, um detetive gordo que não vive sem sexo, maconha e cerveja e também ataca de jornalista policial. Cabe a ele desvendar a morte da estrela que dá nome ao livro: Sereia Maria de Oliveira.
Não vale esperar nada de extraordinário, quando eu quero um suspense intrigante que não me revele seu final logo de cara, procuro Arthur Conan Doyle.
Acontece que Sherlock Holmes não tem o sotaque baiano e não fala tão bem do que vemos todos os dias nos noticiários e programas de auditório.
O bom d'O canto da Sereia é justamente o fato de ser tão palpável que parece realidade romanceada.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Longa História


Quem consegue parar depois que começa a contar uma história? - Pergunta a epígrafe que abre A Longa História, de Reinaldo Santos Neves, publicado em 2007 pela Bertrand Brasil.
Quem consegue parar depois de começar a ler uma boa história? - Pergunto eu, que não saí de casa, não fiz almoço e só parei pra dormir e trabalhar depois que comecei a me embrenhar por esta espantosa fábula.
É claro que eu já tinha ouvido elogios por todos os lados antes de pegar o livro emprestado com a Brunella. E é claro que ela demorou um tempo para me emprestar o dito cujo. Também não pretendo ficar eternamente com a cópia dela, mas comprar a minha.
O leitor mais econômico vai me perguntar por que, raios, eu quero comprar um livro que já li inteirinho, de cabo a rabo e coisa e tal. E eu vou responder que foi caso de empatia absurdamente grande, eu e o livro. Todas as vezes que eu ameaçava xingar o autor dizendo que já bastava daquilo e que estava na hora de um outro rumo a história mudava. Acabava-se aquele tormento e criava-se um tormento novo.
Outra coisa estranha é eu ter simpatizado um bocado com o protagonista, um monge chatíssimo que nunca quer cair em qualquer tentação. Se por um lado, aquela figura tão pura, firme e devota me irritava justamente pela firmeza; por outro, a mesma figura parecia tão próxima e tão humana que eu não tinha como condená-lo. Grim, o protagonista da Longa História, é um herói sem qualquer cara de herói, mas bastante coerente.
Mas minha predileção foi pela mocinha Lollia, que não tinha nada de pura ou de princesa, a não ser talvez os pés. Um tanto oposta a Grim, era ela quem dava um sabor acalourado a história e me surpreendia a todo tempo com sua figura que tanto me lembrava as musas dos poemas barrocos.
Lollia era branca de cabelos negros e um desses anjos belíssimos que não guardam, mas tentam o monge protagonista.
Mas não são apenas esses dois que fazem a história. Há um grande conjunto de pequenas histórias e ótimos personagens. Tempestades em mar e encontros em terra.
Tudo gira em torno da busca por uma história. A Longa História, escrita por Posthumos de Broz, que deve ser transcrita para que a Condessa de Kemp possa conhecê-la antes de morrer. Esta tarefa deve cumprir Grim, um monge copista com nome de contador de história, junto com vários companheiros que formam a Confraria da Condessa. Acontece que, para tento, eles tem que atravessar duas mil milhas e convencer Posthumos a falar. Sim, por que o monge que detém o tesouro-história fez um voto de silêncio que não pretende quebrar.
Mas a Condessa acredita que Posthumos há de quebrar o voto para contar-lhe a história, afinal de contas, os dois são irmãos da mesma dor. Ambos possuem uma fístula no ânus.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tristessa


Jack Kerouac é um viagra no feeling do leitor. Não é a toa que existem tantos malucos por ai, que "o seguiram" em On The Road - um desses malucos não é ninguém menos que Bob Dylan.
Em Tristessa, isso fica ainda mais evidente, por mais que a leitura exija um pouco mais de entendimento no Budismo. Ele deixa claro o que pensa, sempre nas entrelinhas.
As vezes um tanto "Tarantino", os diálogos de Kerouac são magníficos em Tristessa. Tanto nos diálogos do personagem como no dele com o livrinho em que escrevia. As vezes você pode imaginá-lo debruçado em algum lugar discutindo teorias completamente loucas com um pedaço de papel - a caneta é o porta voz, o tradutor de Kerouac.
Além de ser baseado numa história "quase real", em que Jack se apaixona por uma índia mexicana, viciada em morfina, que trabalha como prostituta na Cidade do México, Tristessa é um bom exemplo da prosa poética do autor. Dos detalhes do humor de Tristessa, às barraquinhas de temperos e comidas mexicanas, os ricos detalhes da prosa ficando cada vez mais real e palpável a cada frase completada. O narrador entra dentro de cada personagem, mas nunca os deixando fazer-lhe a cabeça de alguma forma, descrevendo com compaixão cada sofrimento e movimento de sua amada e dos estranhos a sua volta.
Um romance triste, melancólico e intenso. Nada mais Kerouac.
"Capa de Tristessa em versão norte-americana."

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Da morte. Odes mínimas

O todo, sem a parte, não é todo. A parte, em si, já é um todo. Em qualquer parte, Hilda Hilst sempre fala com a morte no livro Da morte. Odes mínimas, de 1980.
Desafiador e instigante, o livro é composto de poemas bem trabalhados, aquarelas e dualidades. O título já sugere muito. Odes são canções, poemas longos, entusiasmados e de fôlego direcionados a alguém ou algo. Neste caso, as odes são mínimas e compõe um todo espetacular. Um livro monotemático que não se repete.
Há formas distintas de tratamento do tema: o medo, o erotismo, a curiosidade, a vontade, o desafio e o pedido. Mas a questão que intriga ao leitor é por que a autora se direciona justamente à morte?
Não se trata, no livro, de uma personagem bonita e atraente como no filme All that jazz, de Bob Fosse, em que a morte aparece vestida de branco e seduz o protagonista. Também não é a morte um jogador de xadrez aterrorizante e calculista, como no filme O Sétimo Selo, de Igmar Bergman. A morte, para Hilda Hilst, é este substantivo abstrato que parece tão concreto que caminha lado a lado com o eu-lírico. Mistura-se no corpo do leitor e pesa com muito pesar.
O eu-lírico, que parece ser mesmo Hilda, assume quase no fim que não compreende a morte, apenas tenta somar o corpo dela ao seu pensamento. Assim, a composição segue desafiadora. Abstrata, a morte não tem um corpo. Entretanto, a escritora verte a morte em coisa viva o texto todo.
Talvez quisesse concretizá-la, defini-la, por fim a ela e torná-la palpável para talvez aceitá-la como inevitável.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Campo de Ampliação

Na próxima semana, o poeta Casé Lontra Marques lançará seu segundo livro, Campo de ampliação, pela editora Lumme. O lançamento será durante o Simpoesia, evento internacional de poesia que acontece do dia 4 ao dia 7 de junho na Casa das Rosas, em São Paulo.
O livro já pode ser comprado pela internet, no site da Livraria Cultura, e estará à venda, em Vitória, a partir do dia 8 de junho, na Livraria Leitura.
Casé Lontra Marques foi um dos destaques do ano passado com a publicação de seu primeiro livro, Mares inacabados. Além de ter sido elogiado por críticos literários consagrados, como Bella Josef (professora da UFRJ), o livro recebeu Menção Honrosa no Concurso Cidade de Belo Horizonte 2007, categoria Poesia – Autor Estreante e esteve entre os indicados ao prêmio Omelete Marginal na categoria Literatura.
Como em Mares inacabados, o poeta prima pela intensidade nos três textos que compõem Campo de ampliação. Três poemas longos dotados de um fôlego belíssimo.
Segundo Casé, os primeiros versos do livro lançam uma proposta de escrita. Estilhaços temáticos na procura de um rosto multiplicado por uma profusão de prismas.
Para ele, a poesia faz parte do seu corpo. Talvez por isso versos tão densos e fluentes, como pulmões, ossos, infecções e nervos.
No prefácio, a escritora e professora da UFMG Maria Esther Maciel fala que o livro compõe-se de três poemas longos e porosos. E parece ser isso mesmo. Poemas tão palpáveis e incômodos quanto o suor que jorra dos poros e se mistura à pele do leitor.

Mais textos de Casé Lontra Marques.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Que loucura, Woody!



"A loucura é relativa. Quem pode definir o que é verdadeiramente são ou insano?"

Mais uma obra-prima cheia de adultérios, é "Que loucura!", (Side Effects), publicado em 1980, época que Woody Allen já era um artista aclamado, tendo dirigido inúmeros filmes, entre eles "Annie Hall", vencedor de quatro Oscar em 1977. Mas o livro, com 17 textos humorísticos, também é testemunha do início de sua carreira, época que ele fazia o que nós chamamos hoje de Stand Up.

O livro trás textos em que Allen mistura filosofia, psicanálise, história, muito humor e muito, mais muito adultério, claro, onde escreve sobre a neurose moderna, que é sua principal característica.

Não preciso nem dizer que o livro é perfeito para quem adora dar risada da esquizofrenia alheia. Woody Allen faz analogias inteligentes e até coloca Madame Bovary no meio, contando a história de um homem que por mágica aparece dentro da história de Flaubert, onde rouba Bovary pra si, leva pra Nova York e lá vivem um romance secreto, depois de apresentar o futuro para a moça. Em outro texto, ele vive Sócrates que filosofa nos seus últimos dias de vida, antes de ser obrigado a suicidar-se. E, além disso, com o texto "Como quase matei o presidente dos Estados Unidos", ironiza os vários filmes na época voltados ao principal e nada criativo tema de ter sempre alguém querendo a matar o homem mais poderoso do mundo.

Com o estilo que só ele tem, Woody Allen dá voltas na história, brinca com o tempo e as principais neuroses das "pessoas comuns", como ele gosta de falar, e faz mais uma bela obra humorística das mais inusitadas situações e facetas dos mesmos. Toda a delícia e inteligência dos filmes em um livro que vai além dos limites da sua imaginação.

sábado, 23 de maio de 2009

Anais Nin - Feminismo, Sexo, Miller e Incesto.


Era uma vez uma menina de 12 anos, que nascera na França, e um dia resolveu escrever diários. Depois de um tempo, quando seu pai abandonou sua família, todos se mudaram pra Nova York, onde ela estudou literatura nas melhores escolas. Seus diários são mundialmente conhecidos. Seus amores invejados. Suas experiências sexuais e amorosas, sem comparação. O amor por um grande homem e o desejo pelo pai.

Precursora feminista francesa, só não superando Joana D'Arc. Esta é Anais Nin. Uma das mulheres mais fascinantes da literatura erótica francesa, uma aprendiz de Marquês de Sade, só que com o vocabulário fresco e torto de uma verdadeira dama. Uma das únicas escritoras que resolveu mostrar ao mundo da primeira e segunda Guerra Mundial, que a mulher também tinha sexualidade, que também tinha prazer, também gozava e gostava literalmente de meter.
Casada 2 vezes e primeiro com Hugo, depois com Rupert. Na maioria dos seus diários, Hugo é o amor de sua vida, mas não consegue se manter longe do amor de Henry Miller. Sim, um dos maiores escritores norte americanos de literatura erótica, teve um envolvimento louco e um tanto conturbado com Anais, além de June, na época a mulher de Miller, com quem ela se envolve e apaixona, tendo seu primeiro contato com o lesbianismo, que ela descreve lindamente em "Henry & June".
Ademais, seus envolvimentos com o primo Eduardo e o que entrou para a história e virou a continuação de "Henry & June", o livro "Incesto", que conta como Anais conheceu o pai, Joaquin Nin, e teve com ele um caso de incesto. Mais que sexo, a paixão e o amor que ela descreve ter pelo pai, algo impensável na nossa sociedade.

O mais intrigante, é que Anais faz as coisas mais "macabras" aos nossos olhos do séc. XXI e nem assim ela consegue se vulgarizar. É uma das únicas mulheres que escreveu livros e mais livros sobre a sexualidade feminina, escrevia palavras de baixo calão e nunca deixando de ser suave, fina, clássica e sensual.
É tão fascinante, que qualquer mulher se vê em Anais. É quase surreal a maneira de ela provar por A+B que nós somos todas iguais quando se trata de sexo. Até a mais católica das mulheres consegue se ver em seus livros e diários. É incrível como ela deixa a situação mais vulgar em algo totalmente pleno e delicado, intocável, de porcelana.

Antes de qualquer crítica arrasadora, qualquer julgamento precipitado, tente ler como ela explica todas as situações que ela se encontra. Ela te convence que ter relacionamentos fora do casamento, ou até transar com o próprio pai, tem um quê de beleza que raramente se vê. Ela mostra toda essa beleza nas entrelinhas.

Entre as obras de Anais, estão os diários e os livros "A casa do Incesto", "Delta de Vênus", "Passarinhos" e "Uma espiã na casa do amor".
Se vale a pena ler? Só tenho a comentar que, eu sou uma das muitas mulheres que virou escrava dessa outra. E adora, de todo coração, suas investidas penetrantes e ardentes. Simplesmente indescritível.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Hilda, Hilda, onde está você?


Ultimamente entrei numas de tentar fazer crítica literária. Estou cursando uma disciplina no Departamento de Linguas e Letras e tudo o mais.
O primeiro trabalho entregue foi sobre Bandeira, analisei "Não sei dançar". Agora, lanço-me a vôos mais altos.
Acontece que na Biblioteca central da Ufes não tem nadinha nadinha sobre Hilda Hilst. Procurei livro por livro da bibliografia indicada no fim de "Da morte. Odes mínimas" e nada.
Quer dizer, dois livros escritos por um professor da Ufes constavam no site, mas no papel que é bom - nada. Revirei estantes, se vocês querem saber. Fiquei lá por longos minutos varrendo poeira e tentando - em vão - encontrar alguém que me falasse de Hilda.
Então falo eu.
Por que "Da morte. Odes mínimas", é um belíssimo livro de poemas que merece ser garimpado e relido por quem quer que o encontre. Trata-se de sensualidade, medo, desafio, dor e uma vontade estranha de um encontro com a morte.
Transcrevo:

"Demora-te sobre minha hora.
Antes de me tomar, demora.
Que tu me percorras cuidadoa, etérea
Que eu te conheça lícita, terrena

Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.

Que me tomes sem pena
Mas voluptuosa, eterna
Como as fêmeas da Terra.

E a ti, te conhecendo
Que eu me faça carne
E posse
Como fazem os homens."

Preciso invetigar os versos com cuidado. Ver a métrica de tudo e saber or que os homens se fazem carne e posse e de onde vem essa coisa de ser como um homem na pra de conhecer a morte.
Por que a hora seria dura para a morte? E por que a morte tem que ser uma mulher forte? E se é mulher, como é que toma percorrendo sensualmente e por que Hilda tem de ser o homem?


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Don Juan


Eu também acho muito bonita a imagem do Joohny Depp. Inspiradora, inclusive. Mas a história de Don Juan de Marco, o filme, não é a mesma de "Don Juan", a peça de Molière.
A peça não é um drama e Don Juan não é um mocinho. Trata-se de uma comédia inteligente que traz como protagonista um vilão autêntico, sem qualquer escrúpulo. Ele corrompe todas as mulheres que toca, mente, joga charme e lida com todas as situações usando a sua inigualável lábia.
Um de seus credores solta a ótima máxima: "Eu preferia que ele me tratasse pior e me pagasse melhor". Don Juan usa mesmo de muita educação para destilar terceiras e quartas intenções.
A tradução que li foi feita por Millôr Fernandes para a L&PM Pocket. A mesma versão esteve em cartaz trazendo Edson Celulari no papel do conquistador.
Pra quem fica só na leitura, vale saber que é simples e arranca gargalhadas de qualquer um que seja capaz de imaginar as cenas.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Henry & June

Alguns livros são espelhos. Nesses, me perco e me descubro aos poucos e sempre dolorosamente. Amanheci e adormeci confessional e nova. Meus pedaços estão todos afetados pela narrativa íntima de um diário.
Tenho lido compulsivamente e repetidamente os diários não expurgados de Anaïs Nin. Henry e June é o livro mais conhecido da autora, trata-se de trechos dos seus diários escritos entre o fim de 1931 e 1932.
Primeiro, me senti invasiva sabendo que leio o diário de uma mulher do século vinte. Depois, me senti Alaíde abrindo o baú de Madame Clessi.
Esse diário foi publicado apenas depois da morte do último personagem vivo, Hugo, marido de Anaïs. Me disseram que esses diários são melhores que os romances dela. Não li. Não sei.
Eu só sei que continuo envolvida por escritos densos diários que me botam à prova.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Para gostar de ler

Esses dias eu estive chateada, pesada, cansada e triste. Queria matar uma sujeita ou quem sabe apenas discontar tudo em facadas distribuídas por aí.
Acontece que eu tinha há um tempo aprendido a receita do bom-humor com Poliana, pensar o lado bom das coisasa e tudo mais. Tentei ao máximo e chegou uma hora em que eu só lembrava do poema do beco.
Pra essas horas, é bom ler Rubem Braga. Qualquer coisa dele lava a alma suja e cansada e faz a gente voltar a lembrar que sorrisos existem.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Quem é Capitu?

A personagem mais polêmica da literatura brasileira, ganha várias versões sobre sua personalidade, sua suposta traição e as dúvidas de seu marido.
Alberto Schprejer organizou um livro, formando um time de feras: Fernanda Montenegro, Luiz Fernando Carvalho, Mary Del Priore, Gustavo Bernardo, Carla Rodrigues, Lya Luft, Silviano Santiago, John Gledson, Otto Lara Resende, Luis Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, Roberto DaMatta, Daniel Piza, Lygia Fagundes Telles.
Com uma bela e incógnita personagem nas mãos, os autores tentam "atar as duas pontas da vida" de Capitu, uns na defesa e outros, acusação. Alguns são polêmicos como a própria Capitu. Mary Del Priore faz uma conclusão histórica do machismo para defender Capitu. Enquanto que Otto Lara Resende (que fica perplexo com o fato de todos duvidarem da sanidade de Bentinho), incrimina Capitu sem dó. No entando John Gledson, discorda friamente de Resende, usando sua idade como desculpa da sua incompreensão da obra.
Verissimo e Millôr Fernandes duvidam da sexualidade de Bentinho, transparecendo nos seus textos a bissexualidade de Bentinho e o ciúme (e o amor) por Escobar e não por Capitu. Citando passagens em que Bentinho demonstra o seu amor por Escobar, que é discreto porém não totalmente escondido.
Além de Del Priore, Carla Rodrigues cita também a feminista americana Helen Caldwell, que propos em 1960, uma releitura de Dom Casmurro para a defesa de Capitu, contra o machismo do século XIX.
Além de tudo isso e mais alguns ótimos textos e crônicas dos outros autores, Luiz Fernando Carvalho dá detalhes de como a minissérie, que foi ao ar em rede nacional em dezembro do ano passado, Capitu, foi feita, imaginada e dirigida. Contém as observações e os desenhos do diretor que inundou de boa literatura as salas de muitos brasileiros. E claro, mais uma vez, a atriz Fernanda Montenegro entrando no personagem, faz uma reflexão maravilhosa sobre a polêmica Capitu.

Quem é Capitu, ninguém ao certo sabe. A dúdiva continua na mente de muitos críticos, escritores, poetas, estudiosos, jornalistas, feministas e etc.
O fato, é que Machado de Assis, o gênio e culpado pela existência da Academia de Letras, Realismo brasileiro e a traição ou não de Capitu, morreu e levou consigo o segredo que por mais que os intelectuais tentem, nunca vai ser desvendado.
Machado escreveu a realidade humana em uma única mulher: bonita, inteligente, sagaz, estrategista e principalmente, misteriosa.



Obrigada Aline, por confiar em mim para dividir o blog!
Grande beijo.

terça-feira, 3 de março de 2009

O amor nos tempos do cólera

Quanto tempo dura um amor?

Não pergunte a mim. Nem seria capaz de responder como é que se reconhece o que pode ser amor ou não. A questão do tempo, quem bem esclareceria seria Florentino Ariza, que atravessou longos cinqüenta e três anos amando em silêncio a mesma mulher: Fermina Daza, uma senhora casada com um renomado médico, Juvenal Urbino.

Assim se estabelece o triângulo amoroso principal de um dos livros mais bonitos que eu já li: “O amor nos tempos do cólera”, do genial Gabriel Garcia Márquez.

O livro precisa ser lido não apenas como uma história de amor, mas por suas tiradas e as minuciosidades das personalidades e dos nomes das personagens. Por exemplo, Fermina Daza é descrita por seu caráter forte, é firme; enquanto Florentino Ariza é um poeta que jamais conseguiu escrever um memorando formal sem os floreios das cartas de amor.

Também vale ressaltar como o cólera aparece de coadjuvante da história: entre os mortos que as personagens vêem numa viagem de navio, como pretexto para os amantes ficarem sozinhos, confundido com o amor de Florentino Ariza. Foi aí que veio, entre vômitos, dores e febres, a frase derradeira: “o amor tem os mesmos sintomas do cólera”.

No mais, eu não assisti ao filme que foi feito à partir do livro, mas achei interessante botar o trailler pra caso alguém se interesse.


segunda-feira, 2 de março de 2009

Chega de saudade


“Chega de saudade” é um amontoado de histórias reais sobre pessoas reais que se lê como um romance. Os conflitos, os amores e as maluquices fazem com que qualquer leitor se sinta parte daquilo e queira viver tudo. Nos surpreendemos com histórias de pessoas públicas, como Nara Leão, Vinícius de Moraes e João Gilberto, que acabam se tornando, através da leitura, como vizinhos nossos – quase amigos íntimos!

No decorrer da obra, Ruy Castro narra as histórias da Bossa Nova. O livro começa com a infância João Gilberto na Bahia, passa por curiosidades sobre canções e pessoas, e termina com o disco que Tom Jobim gravou com Frank Sinatra nos Estados Unidos, tocando violão.

Com “Chega de Saudade” na mão, o leitor deve estar atento a como alguns acasos aparentemente irrisórios deram origem a canções que marcaram época e como as relações entre as pessoas influenciaram acontecimentos históricos.

Roberta Sá - Chega de Saudade

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Nelson no bar com a gente

Cheguei no bar em êxtase.
- Danilo! Terminei o livro com as peças do Nelson.
- E agora, como é que você está se sentindo?
- Muito mais adúltera do que antes. E olha que eu estou solteira.
- Certo.
- Quer dizer, adúltera não. Eu sou honestíssima!
- Sei. Viúva, porém honesta.
- Olha aqui. Eu sou praticamente um Joice de "O anti-Nelson Rodrigues".
- Sim. Você é uma moça de família!
- Eu ia falar Lídia, mas aí eu lembrei que ela foge com o motorista e eu juro que esse não era o destino que eu queria pra mim.

* De fato, a conversa existiu. Numa sexta-feira de carnaval *

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Grande Arte


Foi assim: um flerte completamente ao acaso. Pensei no nome que tinha ouvido alguma vez e pouco depois meus olhos pousaram magicamente no mesmo nome. Vieram mil coisas sobre soncronicidade, coincidências e signos do zodíaco à minha cabeça.

Passou logo. Eu estava num sebo e era natural que eu encontrasse aquele livro ali. Dei uma enrolada, mantive-o na minha bolsa por algumas horas. Não tinha pressa.

Acontece que foi só começar que eu não pude parar. Engoli o livro sem dó em dois dias. Feito paixão de carnaval.

E foi isso mesmo. A Grande Arte, do Rubem Fonseca, foi a minha paixão deste carnaval. Não sei se pelo charme de Mandrake, o personagem principal - um advogado sedutor metido a detetive-, ou pelo enredo bem amarrado e cheio desses inesperados com substância. Posso ter me apaixonado também pela ausência de rodeios que afronta e corta, como as facas que guiam toda a história. Não sei.

Sei que me vi nas falas e no rosto das amantes todas de Mandrake e também nele. Queria descobrir o assassino que fez um P na cara de suas vítimas, duas prostitutas.

Foi então que o flerte me tomou tempo de sono e povoou meus sonhos. Fiquei arrebatada por muito pouco e sem qualquer rodeio. Não era óbvio o fim e nem dizia demais.


Quero mais Rubem Fonseca.

Com porrada.