segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A sátira de Gregório de Mattos e a demologia negativa de Guimarães Rosa em debate no XI Congresso de Estudos Literários

Por Brunella França

Guimarães Rosa e Gregório de Mattos iniciaram o segundo dia de atividades do XI Congresso de Estudos Literários, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo e organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras. Na conferência da manhã, o professor doutor em Literatura Comparada, Luís Eustáquio Soares (Ufes) e da professora doutora em Literatura Comparada, Ana Lúcia de Oliveira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Dentro da temática desta edição do Congresso, Pessoa, persona persoagem, Oliveira apresentou as configurações da persona satírica na “musa praguejadora atribuída a Gregório de Matos. A professora, em sua fala, buscou problematizar o conceito pós-romântico de literatura ao abordar a noção de autoria relacionada à obra do poeta.

Ela destacou também o diálogo com a tradição retórico-poética Greco-romana mantido por Gregório em sua poesia. A partir da análise de alguns poemas do autor, Ana Lúcia de Oliveira revelou as diferentes configurações da persona satírica seiscentista, na qual convergem várias representações sociais da época.

A traição a-Deus
O diabo na rua, no meio do redemoinho. O professor-doutor Luís Eustáquio logo avisou que sua fala, assim como a obra de Graciliano Ramos, estaria permeada de enxofre. Isso porque no trabalho apresentado por ele na conferência, O corpo barroco de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, a traição a-Deus, um dos principais elementos expostos era sobre a demologia negativa.

A negação, segundo explica Soares, começa logo pela palavra que inicia a narrativa. “Nonada”. O pesquisador afirma que não podendo falar de Deus, sendo finitos e mortais, fala-se dele por aquilo que ele não é. “Deixamos Deus quietinho e o diabo a gente fica questionando”.

Tendo em vista o pacto que o personagem Riobaldo fez com o Diabo, o professor procurou mostrar procurar como o narrador de Grande Sertão: Veredas trai a soberania, logo “a-Deus”, ao assumir-se como alteridade. “Riobaldo não é mais sacrificável e objetável, pois, a partir do pacto, engaja-se – eis aqui a ficcionalidade da narrativa – no roubo da transcendência soberana, produzindo uma metafísica de alteridades sem soberanias, através do signo contraditório das artimanhas e estratégias dissimuladas do demo”, esclarece.

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