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sábado, 26 de dezembro de 2009

Sem plumas


Não resolvi ler Woody Allen. Nem com a Ariel falando que é bacana nem nada. A Bárbara simplesmente me chegou com aquele livrinho amarelo e simpático, dizendo que se eu gosto dos filmes, gostaria também de ler.
Sendo dócil e bem mandada como sou, aceitei a sugestão e li cada uma das histórias, dos ensaios e das peças de teatro. A mesma ironia dos filmes. Aquele humor inteligente que te traz um riso de canto de boca. Está tudo lá.
Em destaque, coloco uma peça de nome "Deus". Ariel disse há uns posts atrás que o Woody coloca até a Madame Bovary no meio da sua bagunça em "Que loucura!". Em Deus, de repente aparece Blanche DuBois (de Um Bonde Chamado Desejo, coincidentemente o post abaixo)fugida do manicômio e procurando uma peça nova para si. Alguém levanta da platéia e passa a fazer parte da história. O personagem não quer fazer o que o autor manda e então eles ligam para o Woody Allen, por que todo mundo sabe que não existe. Os protagonistas são gregos que se chamam Hepatitis e Diabetes.
Como é que uma peça dessas pode ser montada? E como é que isso pode não ser divertido?
É sem saída mesmo. Divertidíssimo.
Não vou entregar mais nada do livro.
Mas, se a Bárbara resolver ler esse post, bom que ela saiba que eu pedi que lhe entregassem o livro.

sábado, 21 de novembro de 2009

Um bonde chamado desejo




Tarde da noite. Estávamos num bar, eufóricos, eloqüentes e ligeiramente bêbados. Danilo e eu na mesa. Entre um assunto e outro, percebemos Lígia. Lígia estava sentada sozinha em uma outra mesa, ao lado da caixa de som do boteco. Ouvia Sérgio Sampaio (como todos nós), bebericava um vinho tinto e lia compulsivamente, anotando coisas. Danilo e eu não entendemos por que uma pessoa faria um fichamento numa noite quente sentada num boteco na Rua da Lama. Levantamos e fomos saber que livro era aquele e por que cargas d’água ela parecia tão interessada. Era “um bonde chamado desejo”. Lígia era atriz e tinha que ensaiar um trecho da peça do Tennesse Williams. Nós observamos o ensaio e tivemos boas conversas.
Faz mais ou menos um ano que eu conheci a Lígia e antes disso eu já sabia que o livro existia. Livro e filme com Marlon Brando. Acontece que foi hoje que o livro surgiu na minha frente quando eu estava procurando nada no sebo. Comprei imediatamente. Li compulsivamente.
Então a Lígia começou a fazer sentido. Por que “Um bonde chamado desejo” é bom de ser lido com vinho na mão e como quem toma vinho. Os cuidados são os mesmos para o vinho e para o livro. Ler “um bonde chamado desejo” sem tomar água nos intervalos causa embriaguez instantânea. Atordoa. Não tem outra definição: é do caralho.
Eu não sei quem de vocês já tentou estudar teatro ou construir personagens. Mas deparar-se com uma Blanche DuBois na frente é no mínimo fascinante. Imagine uma mulher fina que, de peixe fora d’água na periferia, vai se mostrando cada vez mais louca. Sem contar o relacionamento de Stella e Stanley, que parecem vivos. E cada uma das sutilezas das relações entre todos os personagens deve ser degustada com calma, mesmo que o livro peça para ser engolido de uma vez só.
É sentimento demais. Os diálogos são tão bons que a história poderia ser uma porcaria, mas não é o caso. É porrada. Cachaça goela a baixo. É coisa pesada, mas nada difícil. Linguagem simples. Palavras certeiras. E todo aquele sentimento, aqueles conflitos. Aquela emoção. O sangue da gente subindo e uma cola automática entre a nossa mão e o livro.
Por que não vai sair. Não tem como largar antes do fim. Não tem como passar ileso. Não tem como tomar golinhos de leve. Lígia fez bem. Se embriagou de tudo de uma vez.







Aqui, o resumo do livro, lá na wikipédia.


Aqui, um comentário sobre o filme "Uma rua chamada pecado" (que é "um bonde chamado desejo" em português), no blog o cara da locadora.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Pai do Sadismo


Ao contrário das místicas que faziam de seu corpo o instrumento de salvação divina, os libertinos, insubmissos e rebeldes, buscavam viver como deuses e, portanto, libertar-se da lei religiosa, tanto pela blasfêmia quanto por práticas voluptuosas da sexualidade. O exemplo de toda uma geração da descoberta do sexo no Iluminismo europeu, foi Donatien Alphonse-François, comumente conhecido como Marquês de Sade, o pai do sadismo.
Nasceu em Paris, em 1740, e durante toda a sua vida foi censurado por Napoleão II e pelo Clero sobre suas obras “perversas”. Depois de ser preso diversas vezes, o seu título de Marquês, (e com a ajuda da segunda mulher) lhe serviu para em vez de continuar na prisão, ir para o sanatório de nome Charenton, onde morreu em 1814, depois da autoflagelação e sodomia.
Enquanto estava em Charenton, escreveu uma de suas maiores obras chamada “Justine ou Os Infortúnios do Amor”, que foi vendido clandestinamente por toda França, sendo proibido logo em seguida por Napoleão II, o que não funcionou como previsto, uma vez que muitas cópias foram feitas mesmo antes de Napoleão as queimá-las em praça pública.
Na vida e na literatura o Marquês foi coerente. Se por um lado passou a vida em prisões, pagando por crimes de licenciosidade (que na verdade nunca ocorrera), perversões, violência sexual, etc, por outro lado legou à história uma obra ampla e complexa, testemunha de seu tormento sexual, estudado até nos dias de hoje pelos maiores psicanalistas, inclusive por sua qualidade inquestionável.
Escreveu entre outros livros “Diálogo entre um Padre e um Moribundo” (1782), “Os 120 em Sodoma” (1785), “Justine” (1788), Filosofia na Alcova (1795),“Os Crimes de Amor” (1800), “O Marido Complacente” (final do séc. XVIII), que ao contrário dos outros livros, é uma reunião de contos escritos com exímia técnica – uma característica do próprio – e uma amostra fiel de seu universo literário e totalmente pessoal.
Marquês de Sade escrevia contos “perversos” de maneira que demonstrava de certa forma, o que acontecia na França e na Itália (Veneza) na época, retratando um pouco em suas obras sua passagem pela Revolução Francesa. Sade é o puro hedonismo encarnado.
E é em São Paulo, na Praça Roosevelt no bairro da Consolação (praça muito conhecida por seus teatros e freqüentadores), no Teatro Espaço dos Satyros, que três obras de Sade foram adaptados para o teatro. Entre eles estão “Os 120 dias em Sodoma”, “Justine” e “Filosofia na Alcova”. O preço do ingresso não passa dos R$ 30,00. Estão em cartaz há um tempo razoável e não se sabe até quando continuam. Contam com a presença de ótimos atores e de acordo com a crítica as peças são um tanto fiéis aos livros. Por isso, um pequeno aviso, como já diria o ilustre Marquês: “Qualquer puritanismo, deixe-o, por favor, do lado de fora do teatro”.
Não só no teatro, mas se encontra Sade também no cinema, em “Os Contos Proibidos de Marquês de Sade”, (no título original, “Quills” de 2000), do diretor Philip Kaufman, e Geoffrey Rush no papel de Sade, fazendo um grande trabalho e também muito aclamado pela crítica.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Don Juan


Eu também acho muito bonita a imagem do Joohny Depp. Inspiradora, inclusive. Mas a história de Don Juan de Marco, o filme, não é a mesma de "Don Juan", a peça de Molière.
A peça não é um drama e Don Juan não é um mocinho. Trata-se de uma comédia inteligente que traz como protagonista um vilão autêntico, sem qualquer escrúpulo. Ele corrompe todas as mulheres que toca, mente, joga charme e lida com todas as situações usando a sua inigualável lábia.
Um de seus credores solta a ótima máxima: "Eu preferia que ele me tratasse pior e me pagasse melhor". Don Juan usa mesmo de muita educação para destilar terceiras e quartas intenções.
A tradução que li foi feita por Millôr Fernandes para a L&PM Pocket. A mesma versão esteve em cartaz trazendo Edson Celulari no papel do conquistador.
Pra quem fica só na leitura, vale saber que é simples e arranca gargalhadas de qualquer um que seja capaz de imaginar as cenas.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Nelson no bar com a gente

Cheguei no bar em êxtase.
- Danilo! Terminei o livro com as peças do Nelson.
- E agora, como é que você está se sentindo?
- Muito mais adúltera do que antes. E olha que eu estou solteira.
- Certo.
- Quer dizer, adúltera não. Eu sou honestíssima!
- Sei. Viúva, porém honesta.
- Olha aqui. Eu sou praticamente um Joice de "O anti-Nelson Rodrigues".
- Sim. Você é uma moça de família!
- Eu ia falar Lídia, mas aí eu lembrei que ela foge com o motorista e eu juro que esse não era o destino que eu queria pra mim.

* De fato, a conversa existiu. Numa sexta-feira de carnaval *

sábado, 7 de junho de 2008

Viviane


Sem muitas postagens por falta de computador, venho hoje só pra falar de uma poeta que encara o tempo como eu gostaria de encarar. Os textos dela são exercícios lúdicos de mais que poesia. Viviane Mosé pede em versos que a solidão a esqueça e avisa para o tempo que quer que ele a coma de frente, olhando nos olhos.
Mas a coisa mais bonita dela, a que eu mais gosto, e um poema que diz que tristesa derretida é lágrima e tristeza endurecida é tumor.



Mais dela aqui e aqui.

*não linquei os poemas durante o post por que o segundo aqui tem todos os citados juntos, sem possibilidade de linkar separadamente.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Ana e a faca

A verdade é que eu simplesmente não sei falar dela e a culpa é de uma frase isolada que me marca, maltrata e instiga. Quando acordo e quando durmo aquela frase de poema me aguça mais do que a frase do Otto Lara Resende instigava aos personagens da peça "Bonitinha, mais ordinária", do grandissíssimo mestre Nelson Rodrigues.
Na peça, falava-se o tempo inteiro que "o mineiro só é solidário no câncer".
Entretanto, a minha frase é mais doce e por isso muito mais perigosa.

Do you Believe in love?

A culpa é da Ana Cristina César, nesse poema.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Salomé



Na minha estante há muitos livros, inclusive muitos que nem foram abertos. Mas dos abertos que eu li, ressaltaria hoje um bem curto que li numa deitada só. Trata-se de uma clássica releitura de um clássico feita por um gigante.
Salomé é a história de uma princesa mui bela que se apaixona pelo profeta João Batista e não é correspondida. Não sei bem como é a história na bíblia, mas versão de Oscar Wilde é fascinante e chega a fazer doer.
Há quem tenha dificuldade de ler quando é drama, mas Salomé toca tão fundo que a dificuldade passa. Os olhos dela são visíveis nas falas e toda força das cenas já batem na cara da gente só na leitura.
Salomé é princesa bonita e ainda dança. Ela é bonita e seduz, então pode tudo. Poderia, então, ser qualquer mulher. É por isso que dói.