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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Casa dos Budas Ditosos

Se nas mil e uma noites Sherazade conta histórias para não morrer, algumas, inclusive, cheias de sacanagem, em “A casa dos budas ditosos” o que motiva a história é o contrário. A protagonista narradora que pode existir mesmo e ter ditado a história, ou não, resolve contar suas sacanagens porque sabe que vai morrer e acha justo dividir o legado. Para ela, a luxúria não é pecado, mas um dom divino que é sua missão na terra.
É este o mote da história e a forma como é contada, parecendo um monólogo, é o que faz ficar ainda mais interessante do que um mero amontoado de pornografias. A luxúria da protagonista tem método e o livro parece ter pretensões educativas. As sacanagens em si parecem coisa tão normal na vida da senhora que não ganham descrições detalhadíssimas. É tudo cru. Palavrões jorram, a linguagem é oral mesmo.
Curiosas são algumas inserções de comentários filosóficos, ideológicos e a pornografia sendo encarada como estilo de vida e forma de leitura de Platão, do feminismo, da política, da academia etc. Viver é foder, diz a protagonista, que faz questão de frisar que esta não é uma conclusão banal, mas uma tese confirmada por sua incursão exaustiva no assunto.
Se os desavergonhados se divertirão com a leitura, também se divertirão os envergonhados. Mesmo absolutamente pornográfico, o livro não é chulo.
Assinado por João Ubaldo Ribeiro com uma nota no começo que diz que a história lhe foi mandada por esta senhora de 68 anos que mudou os nomes e não quer se identificar, “A casa dos budas ditosos” é o volume referente à Luxúria da coleção “Plenos Pecados” e pode ser encontrado em qualquer sebo ou livraria.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A vida de Suzana Flag

Eu não sei nada de violência, nem de paixão, muito menos de como fala uma mulher bonita. Quem sabe dessas coisas é Nelson Rodrigues. Foram 4 folhetins em que ele disse se chamar Suzana Flag. A Suzana que se dizia belíssima, ninguém sabia quem era e todo mundo queria ler.
Aí apareceu, numa revista, uma história de nome “Minha Vida”, assinada por Suzana e cheia de paixão, violência e feminilidade. Os diálogos eram bons demais para parecerem vir de memória. Os detalhes eram demais para ser verdade. Poucos dias passados há anos antes de Suzana começar a escrever. Coisa à beça na cabeça de uma menina de 15 anos, que com aquilo tudo virava mulher – e virava a cabeça de todos os personagens masculinos da história. Começo básico: suicídio da mãe, depois morte do pai, depois armações de casamento com o amante da mãe, depois seqüestro, depois paixões e mais paixões. E muito gás.
Não sei quando descobriram que Suzana era Nelson, mas sei que Suzana é uma delícia de ler e que não é possível soltar “Minha Vida” antes do fim.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Purgatório


“A Divina Comédia”, de Dante, é um clássico que volta-e-meia vê-se retomado por algum autor contemporâneo. Há não tanto tempo, Mário Prata fez uma releitura do texto em forma de folhetim e publicou na Folha Ilustrada. Os leitores e os pedidos para que a diagramação do jornal não “entortasse” a história (que as pessoas queriam encadernar) eram tantos que, terminado o folhetim, foi preciso publicá-lo como livro. “Purgatório” conta de forma bem humorada a verdadeira história de Dante e Beatriz, tão batida em músicas (como Beatriz, de Chico Buarque) e até novelas (como Sete Pecados, de Walcyr Carrasco).
No livro, Dante é o funcionário de um banco que passa a receber e-mails de sua ex-namorada da adolescência, a bailarina Beatriz. Tudo seria normal, se ela não estivesse morta e mandasse e-mails do purgatório. Virgílio, o poeta autor de “Eneida” que, na história original, guia Dante em sua viagem pelo inferno, é um amigo espírita do bancário que rende boas gargalhadas.
De um humor primoroso e fascinante, “Purgatório” é um livro de leitura fácil e agradável, sem ser óbvio. Os rumos alucinantes que a história toma prendem o leitor do começo ao fim. É Excelente motivo para boas gargalhadas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Garota, Interrompida

"A única coisa que me salvou da loucura foi escrever", conta a escritora Susanna Kaysen, de Cambridge, Massachusetts, autora de dois romances, Asa, As I Knew Him e Far Afield, além de suas memórias, Girl, Interrupted.

Estamos em 1967 e Susanna Kaysen de 17 anos, é igual a quase todas as adolescentes norte-americanas da sua idade - confusa, insegura, lutando para entender o mundo em constante mutação à sua volta. Ela não se interessa pelos estudos, com exceção de literatura e biologia (que leva bomba duas vezes). Ao se concentrar em alguma tarefa, como os deveres da escola, frequentemente sua atenção é desviada e começa a esfregar os pulsos na borda da cadeira, mas para antes de se ferir seriamente. Tem vários namorados, e se encantou com um professor de inglês. Fica muito tempo pensando e imaginando a própria morte e, em uma ocasião, enfileirou 50 aspirinas sobre a mesa, engoliu uma por uma e foi até o supermercado. Desmaiou em frente ao açougue e foi levada ao hospital, onde esvaziaram seu estômago. Diante de uma garota assim, pensamos em terapia, ou em alguma atividade que realmente desperte seu interesse. Não cremos que seja caso para um hospital psiquiátrico. Mas em 1967, foi.
Neste livro de memórias, Susanna Kaysen fala dos quase dois anos que passou internada em um hospital psiquiátrico, de 1967 a 1968. Depois de uma consulta a um psiquiatra que nunca havia visto antes, este (após comentar que ela tinha uma espinha) sugeriu que ela se internasse em um hospital, para “um descanso”.
Ela foi posta em um táxi até o Hospital McLean, conhecido por ter “hospedado” famosos e criativos como, Sylvia Plath, James Taylor, Ray Charles e Robert Lowell, e não tão famosos cujas famílias pudessem pagar pela estadia. Como Susanna observa,

“Nosso hospital era famoso e havia abrigado grandes poetas e cantores. O hospital se especializou em poetas e cantores, ou será que os poetas e cantores se especializaram na loucura?”.

O livro não segue uma estrutura narrativa linear; são capítulos isolados, contando incidentes vividos ou testemunhados por Susanna, que nos mostram o cotidiano das internas, o relacionamento com enfermeiras e médicos e, no final do livro, um balanço que a autora faz de seu diagnóstico e do que é a doença mental, de como os psicólogos e psiquiatras têm uma abordagem diferente do paciente (segundo ela, os primeiros tratam a mente, e os últimos, o cérebro, interessando-se somente pelas reações químicas que acontecem lá).

Mais tarde, em 1999, o livro finalmente vira filme dirigido por James Mangold, e estrelando como Susanna Kaysen, Winona Ryder que diz ter se identificado com a autora, período que Ryder se internou numa clínica aos 20 anos. E rendendo à Angelina Jolie o Oscar de melhor atriz coadjuvante (que não era pra menos..!).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Uma espiã na casa do amor


Eu sempre acreditei que existe o livro certo na hora certa. Então foi um acerto começar "Uma espiã na casa do amor", de Anaïs Nin. A protagonista Sabina sou eu e é você também.
A Ariel tinha razão quando disse que o que a Anaïs escreve toca qualquer mulher. Que nos convence das coisas mais impensáveis. Adultério parece aceitável e tudo.
Mas não é apenas uma questão de adultério. Sabina vive a revolução sexual do século passado.
O livro é a história dos questionamentos internos e da culpa e do conflito de uma mulher. Cada amor um galho e várias perguntas sobre o começo de tudo.
Sabina reflete sobre as marcas das coisas, sobre o lugar dela mesma em cada um desses amores. Sobre a paixão e a necessidade de não se fixar se fixando em todas as pessoas.
Vai ficando aos pedaços enquanto tenta ter lucidez para continuar.
Diz que é atriz e finge muitas coisas, tentando se encontrar e descobrir qual das Sabinas é ela mesma.
Tudo se incendeia e nada é muito certo.
A contra capa do livro diz que se trata de um mergulho na sensibilidade.
Talvez seja isso mesmo.
Talvez por isso a Anaïs consiga me arrancar um pedaço a cada linha e me fazer pensar em cada detalhe de mim mesma.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Histórias curtas para Mariana M


No fim das contas, é mesmo uma história de amor.
Criança, eu gostava mesmo de detetives. Em livros, me atentei pouco para as deduções. Não tem graça sempre saber de cara quem é o assassino – e comigo isso sempre acontece. Tentei Agatha Cristie, Sherlock Holmes, alguma coisa de Rubem Fonseca com seu ótimo Mandrake. Romance Noir. Até Nelson Motta – com um livro legal e pronto, nada muito aguçador de cérebros.
Sou dessas leitoras que gostam de porrada. Entretanto, sempre me imaginei detetive. Solucionanadora de casos com raciocínio brilhante. Todavia, não será possível seguir na profissão, nasci mulher.
Em Histórias curtas para Mariana M, Francisco Grijó nos apresenta um narrador anônimo de ares um tanto arrogantes que fala de sua Mariana e de Júlio Albani, outro homem com quem ela se envolve. O narrador vai morrer e declara não gostar de histórias policiais, mas apresenta assassinos, investigações e informações sobre tramas policialescas.
Passei metade do livro me perguntando por que um homem à beira da morte contaria uma história de um gênero que não gosta. No fim, descobri que estava sendo enganada e que ele mesmo brincava comigo todo o tempo. Sem dúvida, Histórias curtas para Mariana M é uma desesperada história de amor.

Aqui, um post do autor sobre o seu livro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Over the Rainbow

Foi um pequeno detalhe. Tenho 5 versões de Over The Rainbow no computador. Então ele deduziu que eu gosto do Mágico de Oz e me deu o livro de natal.
Mesmo sem ler, eu já tinha gostado. Assisti ao filme algumas muitas vezes e tenho a biografia da Judy Garland.
Mas 'O Mágico de Oz', livro de L. Frank Baun, é ainda melhor que o filme. Algumas sacadas - como quando totó morde a bruxa má do Oeste e ela não sangra, por que ela era tão malvada que seu sangue já tinha secado há tempos - dão um tom cômico e o livro todo tem tom de aventura. Algumas passagens tiram mesmo o fôlego da gente, mas depois aparece algo de doce, algo de engraçado, algo de singelo.
É sim uma história infantil, mas é das boas. Das melhores. Dessas em que o poço de magia e invenção de coisas não parece ter fim.
Lembrei de 'A Longa História', que também conta uma viagem.
É isso. 'O Mágico de Oz' é uma história de viagem como tantas outras. Viagem em busca de coração, cérebro, coragem e volta pra casa.
O que me impressiona, afora a história que é mesmo muito legal, é como essas histórias de viagem sempre tem encanto. Busca pelo Santo Graal, tentar levar o anel para ser destruído...
Qual vai ser a próxima viagem?





E como não podia ser diferente, botei esse vídeo com um dos meus trechos preferidos do filme. Uma das minhas músicas preferidas.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sem plumas


Não resolvi ler Woody Allen. Nem com a Ariel falando que é bacana nem nada. A Bárbara simplesmente me chegou com aquele livrinho amarelo e simpático, dizendo que se eu gosto dos filmes, gostaria também de ler.
Sendo dócil e bem mandada como sou, aceitei a sugestão e li cada uma das histórias, dos ensaios e das peças de teatro. A mesma ironia dos filmes. Aquele humor inteligente que te traz um riso de canto de boca. Está tudo lá.
Em destaque, coloco uma peça de nome "Deus". Ariel disse há uns posts atrás que o Woody coloca até a Madame Bovary no meio da sua bagunça em "Que loucura!". Em Deus, de repente aparece Blanche DuBois (de Um Bonde Chamado Desejo, coincidentemente o post abaixo)fugida do manicômio e procurando uma peça nova para si. Alguém levanta da platéia e passa a fazer parte da história. O personagem não quer fazer o que o autor manda e então eles ligam para o Woody Allen, por que todo mundo sabe que não existe. Os protagonistas são gregos que se chamam Hepatitis e Diabetes.
Como é que uma peça dessas pode ser montada? E como é que isso pode não ser divertido?
É sem saída mesmo. Divertidíssimo.
Não vou entregar mais nada do livro.
Mas, se a Bárbara resolver ler esse post, bom que ela saiba que eu pedi que lhe entregassem o livro.

sábado, 21 de novembro de 2009

Um bonde chamado desejo




Tarde da noite. Estávamos num bar, eufóricos, eloqüentes e ligeiramente bêbados. Danilo e eu na mesa. Entre um assunto e outro, percebemos Lígia. Lígia estava sentada sozinha em uma outra mesa, ao lado da caixa de som do boteco. Ouvia Sérgio Sampaio (como todos nós), bebericava um vinho tinto e lia compulsivamente, anotando coisas. Danilo e eu não entendemos por que uma pessoa faria um fichamento numa noite quente sentada num boteco na Rua da Lama. Levantamos e fomos saber que livro era aquele e por que cargas d’água ela parecia tão interessada. Era “um bonde chamado desejo”. Lígia era atriz e tinha que ensaiar um trecho da peça do Tennesse Williams. Nós observamos o ensaio e tivemos boas conversas.
Faz mais ou menos um ano que eu conheci a Lígia e antes disso eu já sabia que o livro existia. Livro e filme com Marlon Brando. Acontece que foi hoje que o livro surgiu na minha frente quando eu estava procurando nada no sebo. Comprei imediatamente. Li compulsivamente.
Então a Lígia começou a fazer sentido. Por que “Um bonde chamado desejo” é bom de ser lido com vinho na mão e como quem toma vinho. Os cuidados são os mesmos para o vinho e para o livro. Ler “um bonde chamado desejo” sem tomar água nos intervalos causa embriaguez instantânea. Atordoa. Não tem outra definição: é do caralho.
Eu não sei quem de vocês já tentou estudar teatro ou construir personagens. Mas deparar-se com uma Blanche DuBois na frente é no mínimo fascinante. Imagine uma mulher fina que, de peixe fora d’água na periferia, vai se mostrando cada vez mais louca. Sem contar o relacionamento de Stella e Stanley, que parecem vivos. E cada uma das sutilezas das relações entre todos os personagens deve ser degustada com calma, mesmo que o livro peça para ser engolido de uma vez só.
É sentimento demais. Os diálogos são tão bons que a história poderia ser uma porcaria, mas não é o caso. É porrada. Cachaça goela a baixo. É coisa pesada, mas nada difícil. Linguagem simples. Palavras certeiras. E todo aquele sentimento, aqueles conflitos. Aquela emoção. O sangue da gente subindo e uma cola automática entre a nossa mão e o livro.
Por que não vai sair. Não tem como largar antes do fim. Não tem como passar ileso. Não tem como tomar golinhos de leve. Lígia fez bem. Se embriagou de tudo de uma vez.







Aqui, o resumo do livro, lá na wikipédia.


Aqui, um comentário sobre o filme "Uma rua chamada pecado" (que é "um bonde chamado desejo" em português), no blog o cara da locadora.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Pai do Sadismo


Ao contrário das místicas que faziam de seu corpo o instrumento de salvação divina, os libertinos, insubmissos e rebeldes, buscavam viver como deuses e, portanto, libertar-se da lei religiosa, tanto pela blasfêmia quanto por práticas voluptuosas da sexualidade. O exemplo de toda uma geração da descoberta do sexo no Iluminismo europeu, foi Donatien Alphonse-François, comumente conhecido como Marquês de Sade, o pai do sadismo.
Nasceu em Paris, em 1740, e durante toda a sua vida foi censurado por Napoleão II e pelo Clero sobre suas obras “perversas”. Depois de ser preso diversas vezes, o seu título de Marquês, (e com a ajuda da segunda mulher) lhe serviu para em vez de continuar na prisão, ir para o sanatório de nome Charenton, onde morreu em 1814, depois da autoflagelação e sodomia.
Enquanto estava em Charenton, escreveu uma de suas maiores obras chamada “Justine ou Os Infortúnios do Amor”, que foi vendido clandestinamente por toda França, sendo proibido logo em seguida por Napoleão II, o que não funcionou como previsto, uma vez que muitas cópias foram feitas mesmo antes de Napoleão as queimá-las em praça pública.
Na vida e na literatura o Marquês foi coerente. Se por um lado passou a vida em prisões, pagando por crimes de licenciosidade (que na verdade nunca ocorrera), perversões, violência sexual, etc, por outro lado legou à história uma obra ampla e complexa, testemunha de seu tormento sexual, estudado até nos dias de hoje pelos maiores psicanalistas, inclusive por sua qualidade inquestionável.
Escreveu entre outros livros “Diálogo entre um Padre e um Moribundo” (1782), “Os 120 em Sodoma” (1785), “Justine” (1788), Filosofia na Alcova (1795),“Os Crimes de Amor” (1800), “O Marido Complacente” (final do séc. XVIII), que ao contrário dos outros livros, é uma reunião de contos escritos com exímia técnica – uma característica do próprio – e uma amostra fiel de seu universo literário e totalmente pessoal.
Marquês de Sade escrevia contos “perversos” de maneira que demonstrava de certa forma, o que acontecia na França e na Itália (Veneza) na época, retratando um pouco em suas obras sua passagem pela Revolução Francesa. Sade é o puro hedonismo encarnado.
E é em São Paulo, na Praça Roosevelt no bairro da Consolação (praça muito conhecida por seus teatros e freqüentadores), no Teatro Espaço dos Satyros, que três obras de Sade foram adaptados para o teatro. Entre eles estão “Os 120 dias em Sodoma”, “Justine” e “Filosofia na Alcova”. O preço do ingresso não passa dos R$ 30,00. Estão em cartaz há um tempo razoável e não se sabe até quando continuam. Contam com a presença de ótimos atores e de acordo com a crítica as peças são um tanto fiéis aos livros. Por isso, um pequeno aviso, como já diria o ilustre Marquês: “Qualquer puritanismo, deixe-o, por favor, do lado de fora do teatro”.
Não só no teatro, mas se encontra Sade também no cinema, em “Os Contos Proibidos de Marquês de Sade”, (no título original, “Quills” de 2000), do diretor Philip Kaufman, e Geoffrey Rush no papel de Sade, fazendo um grande trabalho e também muito aclamado pela crítica.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Muito Soneto Por Nada

É claro que o título me chamou a atenção. Mas se trata de um livro difícil de achar. Sabia que existia já tinha um tempo, mas eu mesma só peguei pra ler por tê-lo ganhado em um sorteio no @viceverso.
Então ele ficou encalhado lá em casa até eu resolver dar uma folheada e começar a ler soneto por soneto.
Aí aconteceu que eu finalmente consegui ler um livro de poemas inteirinho numa cajadada só.
São 50 sonetos para a musa Jose que tratam de flerte, conquista, amor, sexo e coca-cola.
Mas o interessante é que o autor, Reinaldo Santos Neves, é um romancista e se mostra poeta divertido e instigante.
Enfim, sempre gosto das coisas que o Reinaldo escreve.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O canto da Sereia


Uma cantora baiana é assassinada em plena terça-feira gorda em cima de um trio elétrico e pára o carnaval da Bahia. Esse é o ponto de partida do romance de estréia do jornalista Nelson Motta, O canto da Sereia. Além de ter um ritmo gostoso e a leitura ser extremamente fácil, o livro também tem um final previsível.
Ainda assim, vale à pena ler do começo ao fim e degustar as boas sacadas do narrador Augustão, um detetive gordo que não vive sem sexo, maconha e cerveja e também ataca de jornalista policial. Cabe a ele desvendar a morte da estrela que dá nome ao livro: Sereia Maria de Oliveira.
Não vale esperar nada de extraordinário, quando eu quero um suspense intrigante que não me revele seu final logo de cara, procuro Arthur Conan Doyle.
Acontece que Sherlock Holmes não tem o sotaque baiano e não fala tão bem do que vemos todos os dias nos noticiários e programas de auditório.
O bom d'O canto da Sereia é justamente o fato de ser tão palpável que parece realidade romanceada.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Longa História


Quem consegue parar depois que começa a contar uma história? - Pergunta a epígrafe que abre A Longa História, de Reinaldo Santos Neves, publicado em 2007 pela Bertrand Brasil.
Quem consegue parar depois de começar a ler uma boa história? - Pergunto eu, que não saí de casa, não fiz almoço e só parei pra dormir e trabalhar depois que comecei a me embrenhar por esta espantosa fábula.
É claro que eu já tinha ouvido elogios por todos os lados antes de pegar o livro emprestado com a Brunella. E é claro que ela demorou um tempo para me emprestar o dito cujo. Também não pretendo ficar eternamente com a cópia dela, mas comprar a minha.
O leitor mais econômico vai me perguntar por que, raios, eu quero comprar um livro que já li inteirinho, de cabo a rabo e coisa e tal. E eu vou responder que foi caso de empatia absurdamente grande, eu e o livro. Todas as vezes que eu ameaçava xingar o autor dizendo que já bastava daquilo e que estava na hora de um outro rumo a história mudava. Acabava-se aquele tormento e criava-se um tormento novo.
Outra coisa estranha é eu ter simpatizado um bocado com o protagonista, um monge chatíssimo que nunca quer cair em qualquer tentação. Se por um lado, aquela figura tão pura, firme e devota me irritava justamente pela firmeza; por outro, a mesma figura parecia tão próxima e tão humana que eu não tinha como condená-lo. Grim, o protagonista da Longa História, é um herói sem qualquer cara de herói, mas bastante coerente.
Mas minha predileção foi pela mocinha Lollia, que não tinha nada de pura ou de princesa, a não ser talvez os pés. Um tanto oposta a Grim, era ela quem dava um sabor acalourado a história e me surpreendia a todo tempo com sua figura que tanto me lembrava as musas dos poemas barrocos.
Lollia era branca de cabelos negros e um desses anjos belíssimos que não guardam, mas tentam o monge protagonista.
Mas não são apenas esses dois que fazem a história. Há um grande conjunto de pequenas histórias e ótimos personagens. Tempestades em mar e encontros em terra.
Tudo gira em torno da busca por uma história. A Longa História, escrita por Posthumos de Broz, que deve ser transcrita para que a Condessa de Kemp possa conhecê-la antes de morrer. Esta tarefa deve cumprir Grim, um monge copista com nome de contador de história, junto com vários companheiros que formam a Confraria da Condessa. Acontece que, para tento, eles tem que atravessar duas mil milhas e convencer Posthumos a falar. Sim, por que o monge que detém o tesouro-história fez um voto de silêncio que não pretende quebrar.
Mas a Condessa acredita que Posthumos há de quebrar o voto para contar-lhe a história, afinal de contas, os dois são irmãos da mesma dor. Ambos possuem uma fístula no ânus.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Da morte. Odes mínimas

O todo, sem a parte, não é todo. A parte, em si, já é um todo. Em qualquer parte, Hilda Hilst sempre fala com a morte no livro Da morte. Odes mínimas, de 1980.
Desafiador e instigante, o livro é composto de poemas bem trabalhados, aquarelas e dualidades. O título já sugere muito. Odes são canções, poemas longos, entusiasmados e de fôlego direcionados a alguém ou algo. Neste caso, as odes são mínimas e compõe um todo espetacular. Um livro monotemático que não se repete.
Há formas distintas de tratamento do tema: o medo, o erotismo, a curiosidade, a vontade, o desafio e o pedido. Mas a questão que intriga ao leitor é por que a autora se direciona justamente à morte?
Não se trata, no livro, de uma personagem bonita e atraente como no filme All that jazz, de Bob Fosse, em que a morte aparece vestida de branco e seduz o protagonista. Também não é a morte um jogador de xadrez aterrorizante e calculista, como no filme O Sétimo Selo, de Igmar Bergman. A morte, para Hilda Hilst, é este substantivo abstrato que parece tão concreto que caminha lado a lado com o eu-lírico. Mistura-se no corpo do leitor e pesa com muito pesar.
O eu-lírico, que parece ser mesmo Hilda, assume quase no fim que não compreende a morte, apenas tenta somar o corpo dela ao seu pensamento. Assim, a composição segue desafiadora. Abstrata, a morte não tem um corpo. Entretanto, a escritora verte a morte em coisa viva o texto todo.
Talvez quisesse concretizá-la, defini-la, por fim a ela e torná-la palpável para talvez aceitá-la como inevitável.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Campo de Ampliação

Na próxima semana, o poeta Casé Lontra Marques lançará seu segundo livro, Campo de ampliação, pela editora Lumme. O lançamento será durante o Simpoesia, evento internacional de poesia que acontece do dia 4 ao dia 7 de junho na Casa das Rosas, em São Paulo.
O livro já pode ser comprado pela internet, no site da Livraria Cultura, e estará à venda, em Vitória, a partir do dia 8 de junho, na Livraria Leitura.
Casé Lontra Marques foi um dos destaques do ano passado com a publicação de seu primeiro livro, Mares inacabados. Além de ter sido elogiado por críticos literários consagrados, como Bella Josef (professora da UFRJ), o livro recebeu Menção Honrosa no Concurso Cidade de Belo Horizonte 2007, categoria Poesia – Autor Estreante e esteve entre os indicados ao prêmio Omelete Marginal na categoria Literatura.
Como em Mares inacabados, o poeta prima pela intensidade nos três textos que compõem Campo de ampliação. Três poemas longos dotados de um fôlego belíssimo.
Segundo Casé, os primeiros versos do livro lançam uma proposta de escrita. Estilhaços temáticos na procura de um rosto multiplicado por uma profusão de prismas.
Para ele, a poesia faz parte do seu corpo. Talvez por isso versos tão densos e fluentes, como pulmões, ossos, infecções e nervos.
No prefácio, a escritora e professora da UFMG Maria Esther Maciel fala que o livro compõe-se de três poemas longos e porosos. E parece ser isso mesmo. Poemas tão palpáveis e incômodos quanto o suor que jorra dos poros e se mistura à pele do leitor.

Mais textos de Casé Lontra Marques.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Hilda, Hilda, onde está você?


Ultimamente entrei numas de tentar fazer crítica literária. Estou cursando uma disciplina no Departamento de Linguas e Letras e tudo o mais.
O primeiro trabalho entregue foi sobre Bandeira, analisei "Não sei dançar". Agora, lanço-me a vôos mais altos.
Acontece que na Biblioteca central da Ufes não tem nadinha nadinha sobre Hilda Hilst. Procurei livro por livro da bibliografia indicada no fim de "Da morte. Odes mínimas" e nada.
Quer dizer, dois livros escritos por um professor da Ufes constavam no site, mas no papel que é bom - nada. Revirei estantes, se vocês querem saber. Fiquei lá por longos minutos varrendo poeira e tentando - em vão - encontrar alguém que me falasse de Hilda.
Então falo eu.
Por que "Da morte. Odes mínimas", é um belíssimo livro de poemas que merece ser garimpado e relido por quem quer que o encontre. Trata-se de sensualidade, medo, desafio, dor e uma vontade estranha de um encontro com a morte.
Transcrevo:

"Demora-te sobre minha hora.
Antes de me tomar, demora.
Que tu me percorras cuidadoa, etérea
Que eu te conheça lícita, terrena

Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.

Que me tomes sem pena
Mas voluptuosa, eterna
Como as fêmeas da Terra.

E a ti, te conhecendo
Que eu me faça carne
E posse
Como fazem os homens."

Preciso invetigar os versos com cuidado. Ver a métrica de tudo e saber or que os homens se fazem carne e posse e de onde vem essa coisa de ser como um homem na pra de conhecer a morte.
Por que a hora seria dura para a morte? E por que a morte tem que ser uma mulher forte? E se é mulher, como é que toma percorrendo sensualmente e por que Hilda tem de ser o homem?


quarta-feira, 6 de maio de 2009

Don Juan


Eu também acho muito bonita a imagem do Joohny Depp. Inspiradora, inclusive. Mas a história de Don Juan de Marco, o filme, não é a mesma de "Don Juan", a peça de Molière.
A peça não é um drama e Don Juan não é um mocinho. Trata-se de uma comédia inteligente que traz como protagonista um vilão autêntico, sem qualquer escrúpulo. Ele corrompe todas as mulheres que toca, mente, joga charme e lida com todas as situações usando a sua inigualável lábia.
Um de seus credores solta a ótima máxima: "Eu preferia que ele me tratasse pior e me pagasse melhor". Don Juan usa mesmo de muita educação para destilar terceiras e quartas intenções.
A tradução que li foi feita por Millôr Fernandes para a L&PM Pocket. A mesma versão esteve em cartaz trazendo Edson Celulari no papel do conquistador.
Pra quem fica só na leitura, vale saber que é simples e arranca gargalhadas de qualquer um que seja capaz de imaginar as cenas.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Henry & June

Alguns livros são espelhos. Nesses, me perco e me descubro aos poucos e sempre dolorosamente. Amanheci e adormeci confessional e nova. Meus pedaços estão todos afetados pela narrativa íntima de um diário.
Tenho lido compulsivamente e repetidamente os diários não expurgados de Anaïs Nin. Henry e June é o livro mais conhecido da autora, trata-se de trechos dos seus diários escritos entre o fim de 1931 e 1932.
Primeiro, me senti invasiva sabendo que leio o diário de uma mulher do século vinte. Depois, me senti Alaíde abrindo o baú de Madame Clessi.
Esse diário foi publicado apenas depois da morte do último personagem vivo, Hugo, marido de Anaïs. Me disseram que esses diários são melhores que os romances dela. Não li. Não sei.
Eu só sei que continuo envolvida por escritos densos diários que me botam à prova.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Quem é Capitu?

A personagem mais polêmica da literatura brasileira, ganha várias versões sobre sua personalidade, sua suposta traição e as dúvidas de seu marido.
Alberto Schprejer organizou um livro, formando um time de feras: Fernanda Montenegro, Luiz Fernando Carvalho, Mary Del Priore, Gustavo Bernardo, Carla Rodrigues, Lya Luft, Silviano Santiago, John Gledson, Otto Lara Resende, Luis Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, Luiz Alberto Pinheiro de Freitas, Roberto DaMatta, Daniel Piza, Lygia Fagundes Telles.
Com uma bela e incógnita personagem nas mãos, os autores tentam "atar as duas pontas da vida" de Capitu, uns na defesa e outros, acusação. Alguns são polêmicos como a própria Capitu. Mary Del Priore faz uma conclusão histórica do machismo para defender Capitu. Enquanto que Otto Lara Resende (que fica perplexo com o fato de todos duvidarem da sanidade de Bentinho), incrimina Capitu sem dó. No entando John Gledson, discorda friamente de Resende, usando sua idade como desculpa da sua incompreensão da obra.
Verissimo e Millôr Fernandes duvidam da sexualidade de Bentinho, transparecendo nos seus textos a bissexualidade de Bentinho e o ciúme (e o amor) por Escobar e não por Capitu. Citando passagens em que Bentinho demonstra o seu amor por Escobar, que é discreto porém não totalmente escondido.
Além de Del Priore, Carla Rodrigues cita também a feminista americana Helen Caldwell, que propos em 1960, uma releitura de Dom Casmurro para a defesa de Capitu, contra o machismo do século XIX.
Além de tudo isso e mais alguns ótimos textos e crônicas dos outros autores, Luiz Fernando Carvalho dá detalhes de como a minissérie, que foi ao ar em rede nacional em dezembro do ano passado, Capitu, foi feita, imaginada e dirigida. Contém as observações e os desenhos do diretor que inundou de boa literatura as salas de muitos brasileiros. E claro, mais uma vez, a atriz Fernanda Montenegro entrando no personagem, faz uma reflexão maravilhosa sobre a polêmica Capitu.

Quem é Capitu, ninguém ao certo sabe. A dúdiva continua na mente de muitos críticos, escritores, poetas, estudiosos, jornalistas, feministas e etc.
O fato, é que Machado de Assis, o gênio e culpado pela existência da Academia de Letras, Realismo brasileiro e a traição ou não de Capitu, morreu e levou consigo o segredo que por mais que os intelectuais tentem, nunca vai ser desvendado.
Machado escreveu a realidade humana em uma única mulher: bonita, inteligente, sagaz, estrategista e principalmente, misteriosa.



Obrigada Aline, por confiar em mim para dividir o blog!
Grande beijo.

terça-feira, 3 de março de 2009

O amor nos tempos do cólera

Quanto tempo dura um amor?

Não pergunte a mim. Nem seria capaz de responder como é que se reconhece o que pode ser amor ou não. A questão do tempo, quem bem esclareceria seria Florentino Ariza, que atravessou longos cinqüenta e três anos amando em silêncio a mesma mulher: Fermina Daza, uma senhora casada com um renomado médico, Juvenal Urbino.

Assim se estabelece o triângulo amoroso principal de um dos livros mais bonitos que eu já li: “O amor nos tempos do cólera”, do genial Gabriel Garcia Márquez.

O livro precisa ser lido não apenas como uma história de amor, mas por suas tiradas e as minuciosidades das personalidades e dos nomes das personagens. Por exemplo, Fermina Daza é descrita por seu caráter forte, é firme; enquanto Florentino Ariza é um poeta que jamais conseguiu escrever um memorando formal sem os floreios das cartas de amor.

Também vale ressaltar como o cólera aparece de coadjuvante da história: entre os mortos que as personagens vêem numa viagem de navio, como pretexto para os amantes ficarem sozinhos, confundido com o amor de Florentino Ariza. Foi aí que veio, entre vômitos, dores e febres, a frase derradeira: “o amor tem os mesmos sintomas do cólera”.

No mais, eu não assisti ao filme que foi feito à partir do livro, mas achei interessante botar o trailler pra caso alguém se interesse.