sábado, 21 de novembro de 2009

Um bonde chamado desejo




Tarde da noite. Estávamos num bar, eufóricos, eloqüentes e ligeiramente bêbados. Danilo e eu na mesa. Entre um assunto e outro, percebemos Lígia. Lígia estava sentada sozinha em uma outra mesa, ao lado da caixa de som do boteco. Ouvia Sérgio Sampaio (como todos nós), bebericava um vinho tinto e lia compulsivamente, anotando coisas. Danilo e eu não entendemos por que uma pessoa faria um fichamento numa noite quente sentada num boteco na Rua da Lama. Levantamos e fomos saber que livro era aquele e por que cargas d’água ela parecia tão interessada. Era “um bonde chamado desejo”. Lígia era atriz e tinha que ensaiar um trecho da peça do Tennesse Williams. Nós observamos o ensaio e tivemos boas conversas.
Faz mais ou menos um ano que eu conheci a Lígia e antes disso eu já sabia que o livro existia. Livro e filme com Marlon Brando. Acontece que foi hoje que o livro surgiu na minha frente quando eu estava procurando nada no sebo. Comprei imediatamente. Li compulsivamente.
Então a Lígia começou a fazer sentido. Por que “Um bonde chamado desejo” é bom de ser lido com vinho na mão e como quem toma vinho. Os cuidados são os mesmos para o vinho e para o livro. Ler “um bonde chamado desejo” sem tomar água nos intervalos causa embriaguez instantânea. Atordoa. Não tem outra definição: é do caralho.
Eu não sei quem de vocês já tentou estudar teatro ou construir personagens. Mas deparar-se com uma Blanche DuBois na frente é no mínimo fascinante. Imagine uma mulher fina que, de peixe fora d’água na periferia, vai se mostrando cada vez mais louca. Sem contar o relacionamento de Stella e Stanley, que parecem vivos. E cada uma das sutilezas das relações entre todos os personagens deve ser degustada com calma, mesmo que o livro peça para ser engolido de uma vez só.
É sentimento demais. Os diálogos são tão bons que a história poderia ser uma porcaria, mas não é o caso. É porrada. Cachaça goela a baixo. É coisa pesada, mas nada difícil. Linguagem simples. Palavras certeiras. E todo aquele sentimento, aqueles conflitos. Aquela emoção. O sangue da gente subindo e uma cola automática entre a nossa mão e o livro.
Por que não vai sair. Não tem como largar antes do fim. Não tem como passar ileso. Não tem como tomar golinhos de leve. Lígia fez bem. Se embriagou de tudo de uma vez.







Aqui, o resumo do livro, lá na wikipédia.


Aqui, um comentário sobre o filme "Uma rua chamada pecado" (que é "um bonde chamado desejo" em português), no blog o cara da locadora.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A sátira de Gregório de Mattos e a demologia negativa de Guimarães Rosa em debate no XI Congresso de Estudos Literários

Por Brunella França

Guimarães Rosa e Gregório de Mattos iniciaram o segundo dia de atividades do XI Congresso de Estudos Literários, realizado na Universidade Federal do Espírito Santo e organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Letras. Na conferência da manhã, o professor doutor em Literatura Comparada, Luís Eustáquio Soares (Ufes) e da professora doutora em Literatura Comparada, Ana Lúcia de Oliveira, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Dentro da temática desta edição do Congresso, Pessoa, persona persoagem, Oliveira apresentou as configurações da persona satírica na “musa praguejadora atribuída a Gregório de Matos. A professora, em sua fala, buscou problematizar o conceito pós-romântico de literatura ao abordar a noção de autoria relacionada à obra do poeta.

Ela destacou também o diálogo com a tradição retórico-poética Greco-romana mantido por Gregório em sua poesia. A partir da análise de alguns poemas do autor, Ana Lúcia de Oliveira revelou as diferentes configurações da persona satírica seiscentista, na qual convergem várias representações sociais da época.

A traição a-Deus
O diabo na rua, no meio do redemoinho. O professor-doutor Luís Eustáquio logo avisou que sua fala, assim como a obra de Graciliano Ramos, estaria permeada de enxofre. Isso porque no trabalho apresentado por ele na conferência, O corpo barroco de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, a traição a-Deus, um dos principais elementos expostos era sobre a demologia negativa.

A negação, segundo explica Soares, começa logo pela palavra que inicia a narrativa. “Nonada”. O pesquisador afirma que não podendo falar de Deus, sendo finitos e mortais, fala-se dele por aquilo que ele não é. “Deixamos Deus quietinho e o diabo a gente fica questionando”.

Tendo em vista o pacto que o personagem Riobaldo fez com o Diabo, o professor procurou mostrar procurar como o narrador de Grande Sertão: Veredas trai a soberania, logo “a-Deus”, ao assumir-se como alteridade. “Riobaldo não é mais sacrificável e objetável, pois, a partir do pacto, engaja-se – eis aqui a ficcionalidade da narrativa – no roubo da transcendência soberana, produzindo uma metafísica de alteridades sem soberanias, através do signo contraditório das artimanhas e estratégias dissimuladas do demo”, esclarece.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Congresso de Estudos Literários acontece essa semana na Ufes


Dia 5 e 6 de novembro, acontece o Décimo Primeiro Congresso de Estudos Literários Realizado pelo programa de pós-graduação em Estudos Literários da Ufes. O tema deste ano é “Pessoa, persona, personagem”. Haverá conferências e apresentações de trabalhos divididos entre manhãs, tardes e noites dos dois dias, no auditório do ICII, no prédio Bernadette Lyra e nas salas do ICIII.

O objetivo do evento é proporcionar uma reflexão sobre a literatura, levando em conta os seus processos de constituição e a sua indissociabilidade em relação à história, à cultura, à sociedade. Assim, o tema pessoa, persona e personagem, será discutido tendo em vista que são elementos decisivos para a leitura, interpretação e compreensão de textos literários e afins.

Segundo um dos coordenadores do evento, professor Paulo Roberto Sodré, a análise do que é pessoa, o que é persona e o que é personagem é um dos pontos mais polêmicos do estudo da literatura. Dessa forma, o congresso deve se atentar para como essas figuras são tratadas na Literatura e na Crítica, observando como as pessoas são representadas de acordo com raça, classe social e sexualidade, por exemplo, e as relações entre personagem e autoria.

Um dos destaques da programação será a presença do professor Antônio Tillis, do Dartmouth College, EUA, com a conferência “la literatura afro-latinoamericana y las realidades afro-diaspóricas”. Tillis encerrará o evento, na noite do dia 6, falando sobre a Literatura como instrumento de luta política contra a invisibilidade.

A programação completa e os resumos dos trabalhos a ser apresentados estão disponíveis no site.