segunda-feira, 8 de junho de 2009

Da morte. Odes mínimas

O todo, sem a parte, não é todo. A parte, em si, já é um todo. Em qualquer parte, Hilda Hilst sempre fala com a morte no livro Da morte. Odes mínimas, de 1980.
Desafiador e instigante, o livro é composto de poemas bem trabalhados, aquarelas e dualidades. O título já sugere muito. Odes são canções, poemas longos, entusiasmados e de fôlego direcionados a alguém ou algo. Neste caso, as odes são mínimas e compõe um todo espetacular. Um livro monotemático que não se repete.
Há formas distintas de tratamento do tema: o medo, o erotismo, a curiosidade, a vontade, o desafio e o pedido. Mas a questão que intriga ao leitor é por que a autora se direciona justamente à morte?
Não se trata, no livro, de uma personagem bonita e atraente como no filme All that jazz, de Bob Fosse, em que a morte aparece vestida de branco e seduz o protagonista. Também não é a morte um jogador de xadrez aterrorizante e calculista, como no filme O Sétimo Selo, de Igmar Bergman. A morte, para Hilda Hilst, é este substantivo abstrato que parece tão concreto que caminha lado a lado com o eu-lírico. Mistura-se no corpo do leitor e pesa com muito pesar.
O eu-lírico, que parece ser mesmo Hilda, assume quase no fim que não compreende a morte, apenas tenta somar o corpo dela ao seu pensamento. Assim, a composição segue desafiadora. Abstrata, a morte não tem um corpo. Entretanto, a escritora verte a morte em coisa viva o texto todo.
Talvez quisesse concretizá-la, defini-la, por fim a ela e torná-la palpável para talvez aceitá-la como inevitável.