sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Evangelho de Coco Chanel

Emergindo das profundezas glamorosas da Fashion Avenue, NY, nasce o livro da escritora norte-americana Karen Karbo, uma fã incondicional e estudiosa do assunto, que tomou coragem para escrever sobre a mulher mais influente na moda, Coco Chanel.

Como uma mulher em pleno século XIX, órfã, Chanel poderia ter sido uma dócil dona de casa (dependente e submissa). Porém, Chanel não era dessas mulheres que se entregavam facilmente às normas e padrões da época. A partir de uma ajudinha financeira do seu primeiro (de muitos) amante rico, Balsan, Chanel criou seu primeiro ateliê, que logo que lucrou, pagou-lhe o empréstimo. Como sua primeira “peça”, a estilista adaptou para mulheres, o chapéu de gondoleiro de jérsei. Coco adorava montaria, o que a influenciou a adaptar a calça de montaria masculina para uma calça mais delicada, com linhas e cortes femininos. De repente todas as mulheres mais chiques de Paris, tinha um item marcado com dois Cês, que virou a cara de marca e ícone de glamour. Ou o chapéu, ou a calça de montaria, e claro o clássico perfume Chanel Nº 5, que serviu não só para deixá-la rica, livrá-la de problemas com o governo francês, como até a musa Marylin Monroe usar o perfume e eternizá-lo.

Como disse a autora, se Chanel visse o mundo de hoje, ela no mínimo surtaria, tal é a mudança radical que a moda sofre desde a década de 1970 (Chanel morreu em 71). Se a revolução sexual e a mini-saia foram desaprovadas por Chanel, imagine se ela visse as barbáries fashions que o mundo anda cometendo. Como ela mesma disse, “morreria de desgosto”. Coco odiava tudo ao que se referia à revolução sexual da mulher, apesar de ser uma e não gostar de obedecer ninguém.

Com bom humor, classe, ironia e uma escrita intimista, Karbo conta a história da vida de Coco, usando suas frases como parâmetro e se baseando em muita pesquisa, uma vez que a estilista reinventava sua história todas as vezes que dava uma nova entrevista. A reinvenção de Chanel acabou virando um capítulo inteiro no livro de Karen, que explica o porquê a estilista tinha essa mania da auto-reinvenção.

Sábio, engenhoso e inovador, o Evangelho de Coco Chanel é uma encantadora viagem pela complexa vida de um ícone da moda. Com um olhar divertido e criterioso sobre a genial autora do pretinho básico, o livro também conta com as ilustrações de Chesley McLaren, conhecida como “a ilustradora francesa de Nova York”, pelo seu elegante traço.

No final do livro, Karbo nos deixa uma linda mensagem de perseverança e amor ao que se faz dita pela própria Coco, em uma entrevista à revista New Yorker. Declarou que nunca se arrependeu de nada do que fez e que viveu pela moda. Viveu para o seu “maior desafio”, que segundo a estilista, era deixar as mulheres sempre belas em qualquer situação. Apesar da declaração, o mundo mudou muito depois de Chanel e tudo que a estilista tocou virou herança, peças raras, peças impagáveis e nada democráticas. Hoje é o usurário que tem de ser digno para usar uma peça cravada com os dois Cês.

.