quarta-feira, 24 de março de 2010

A vida de Suzana Flag

Eu não sei nada de violência, nem de paixão, muito menos de como fala uma mulher bonita. Quem sabe dessas coisas é Nelson Rodrigues. Foram 4 folhetins em que ele disse se chamar Suzana Flag. A Suzana que se dizia belíssima, ninguém sabia quem era e todo mundo queria ler.
Aí apareceu, numa revista, uma história de nome “Minha Vida”, assinada por Suzana e cheia de paixão, violência e feminilidade. Os diálogos eram bons demais para parecerem vir de memória. Os detalhes eram demais para ser verdade. Poucos dias passados há anos antes de Suzana começar a escrever. Coisa à beça na cabeça de uma menina de 15 anos, que com aquilo tudo virava mulher – e virava a cabeça de todos os personagens masculinos da história. Começo básico: suicídio da mãe, depois morte do pai, depois armações de casamento com o amante da mãe, depois seqüestro, depois paixões e mais paixões. E muito gás.
Não sei quando descobriram que Suzana era Nelson, mas sei que Suzana é uma delícia de ler e que não é possível soltar “Minha Vida” antes do fim.

domingo, 21 de março de 2010

Eu, cabotina.

Saiu esta semana o resultado do Prêmio Ufes de Literatura 2009/2010. A idéia era divulgar e incentivar a produção literária. Ao contrário do que parece, o prêmio não foi disputado apenas por estudantes da Ufes, mas por gente de todo o Brasil e até da Alemanha.
O concurso foi feito todo por e-mail e os 20 ganhadores, 10 da categoria poesia e 10 da categoria contos, terão seus trabalhos publicados em uma coletânea a ser lançada ainda em Abril.
Sobre ser cabotina, o lance é o seguinte: fiquei em décimo lugar na categoria contos e fui a única mulher entre os contistas laureados.
o resultado pode ser conferido neste link aqui.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Purgatório


“A Divina Comédia”, de Dante, é um clássico que volta-e-meia vê-se retomado por algum autor contemporâneo. Há não tanto tempo, Mário Prata fez uma releitura do texto em forma de folhetim e publicou na Folha Ilustrada. Os leitores e os pedidos para que a diagramação do jornal não “entortasse” a história (que as pessoas queriam encadernar) eram tantos que, terminado o folhetim, foi preciso publicá-lo como livro. “Purgatório” conta de forma bem humorada a verdadeira história de Dante e Beatriz, tão batida em músicas (como Beatriz, de Chico Buarque) e até novelas (como Sete Pecados, de Walcyr Carrasco).
No livro, Dante é o funcionário de um banco que passa a receber e-mails de sua ex-namorada da adolescência, a bailarina Beatriz. Tudo seria normal, se ela não estivesse morta e mandasse e-mails do purgatório. Virgílio, o poeta autor de “Eneida” que, na história original, guia Dante em sua viagem pelo inferno, é um amigo espírita do bancário que rende boas gargalhadas.
De um humor primoroso e fascinante, “Purgatório” é um livro de leitura fácil e agradável, sem ser óbvio. Os rumos alucinantes que a história toma prendem o leitor do começo ao fim. É Excelente motivo para boas gargalhadas.

sexta-feira, 5 de março de 2010

História do Olho - Georges Bataille


Uma narrativa qualquer, numa praia qualquer em férias de verão, a Espanha continua a mesma com seus espanhóis e estrangeiros, visitando lugares históricos. Este é o cenário para a primeira ficção de Georges Bataille, "História do Olho", livro que ilustra uma filosofia passando do gênero noir e erótico. Como nos livros de Marques de Sade, Bataille busca traços explícitos nas personagens, confiando nelas para expor suas ideias, que ainda eram implícita no começo de sua carreira.
A obra publicada originalmente em 1928, não leva o nome verdadeiro do autor, passando por Lord Auch, marca como em nenhum outro texto seu, o desejo de ser "apagado", uma vez que busca omitir os traços que permitem identificar o verdadeiro nome do autor.
De ficção a auto biografia, Bataille monta a estrutura do livro de uma forma complicada e dissimulada. Misturando o estilo noir e erótico, dá detalhes precisos sobre suas paixões, inspirados sempre por suas leituras místicas, além de Nietzsche e Sade. Tais inspirações só definia mais a suas obsessões fúnebres, relacionadas a violência erótica e ao êxtase religioso. "O sentido do erotismo é a fusão, a supressão dos limites", escreve o autor, explicando a união dos corpos a ponto de se tornar indistintas uma das outras. Ou, como completa Bataille em "O Erotismo", numa passagem que resume seu primeiro livro: "O sentido último do erotismo é a morte".