quinta-feira, 3 de junho de 2010

Bom é ser musa

Hoje eu queria estar lá em Cachoeiro, naquele exercício bonito de compartilhar solidão. Não. Hoje eu não quero e nem consigo pensar. Estou triste. Triste por ser bonita que é uma coisa que eu nunca fiz questão de ser. E também por ser ingênua de acreditar tanto em livros e mais neles do que na própria vida.
A verdade é que Elizabeth Bennet nunca mentiu para mim. Lolita muito menos. Talvez Anaïs tenha mentido nos diários, mas eu consigo acreditar naquelas letras todas moles. Consigo acreditar nas pernas de Dolores-Lolita que se estendem inocentemente sobre as pernas cobertas de um Humbert quase maluco.
Eu não estou aqui para julgar Lolita, nem Capitu, nem nenhuma outra mocinha dúbia que eu sempre quis ser. Fico aqui admirando Lúcia e pronto. Querendo ser Aurélia ou mais. Mas o Grijó já disse que perto dessas mocinhas românticas a minha pele não serve nem para fazer sabão.
E eu mesma nunca fui nenhuma mocinha romântica, nem nunca quis ser vilã. Menos quando com muita raiva. Com muita raiva todas viramos Lady Macbeth. Mas nem ela mentiu para mim.
Então eu volto à essa tristeza exata e talvez forçada, talvez chula, talvez tosca. De não ser musa de nada. De ter que agüentar todos os dias ser dessas pessoas que escrevem e não gostam de qualquer letra mal posta por qualquer outra pessoa.
Principalmente eu detesto pontuação equivocada. E isso, leitor, é sofrimento. É impossível agüentar pontuação equivocada quando quem lê sou eu.
E hoje as palavras não estão dançando, nem eu. E toda a doçura só serve de combustível para mais besteira e mais idéia que não serve nem pra romance, nem pra conto, muito menos para poemas.
Hoje eu queria talvez conseguir contar métrica com propriedade e compor sonetos toscos. Queria pensar um tanto menos e sentir com muito menos gravidade.
Então, se hoje me nascesse um filho, eu diria a ele que jogasse bola e ficasse alto e fosse absurdamente galante.
Por que o resto todo é muito dolorido e fica sendo muito difícil querer qualquer pessoa perto. Melhor que meu filho inspire versos – mesmo os mal feitos – e que fique feliz ao recebê-los sem qualquer exigência de ritmo e metáfora.
Meu filho nem vai ter nome de poeta, que é pra não correr riscos.
Furada, leitor. Eu mesma tenho nome de nada. Nome só meu. E esse carma.
Vamos seguindo pra fora, então, que eu não sei dançar e preciso agora tomar um pouco de alegria.

11 comentários:

kan ghu ru. disse...

Mesmo que triste, senti no texto uma sinceridade, uma melancolia que também é minha, se é que poderia chamar melancolia essa coisa que me permito sentir.
Hoje vi as fotos do Fórum. Senti saudade. E também um pouco de tristeza de não poder tomar para mim mais que as tuas palavras que eu engulo cada vez que tu escreves.
E como digo, só pra constar, adoro passar por onde eu possa encontrar teus rastros. De migalha em migalha, eu mato essa da fome.
x)~~

pós-modernidade disse...

Belo texto!

TELMA GUEDES disse...

Ariel! q texto lindo! q sensibilidade...os espiritos livres geralmente são melancolicos...a tristeza mtas vezes e´necessária p trazer a tona alguma solução do espírito...temos q escuta-lo...super beijo linda! (sem receio nenhum de dizer, Adoro ficar triste!) bjsssss

Cadinho RoCo disse...

Brindemos a alegria.
Cadinho RoCo

GIL disse...

Que me dera Aline, escrever como vc....lindo....bjks....Gil

Eduardo Lara Resende disse...

Pontuação equivocada... V. disse tudo.
Ótimo texto! Voltarei.
Podendo, visite-me em http://pretextoselr.blogspot.com/
Abraço.

Aline Alarcão disse...

No meio de tantos blogs de moda e de humor, encontrar um blog que fale de sentimentos de uma forma bem elaborada e interessante chega a causar supresa rs... Os personagens utilizados como referência tornaram a leitura mais curiosa.
Mto bom!!!
bjoo
http://bellalarcao.blogspot.com/

Tati Fanti disse...

Lindo o seu texto.... Adorei!!
Beijos
Tati
Http://comoagarrarummarido.blogspot.com

Mimo Chic disse...

Nossa que gostoso entrar num blog como esse, estamos encantadas!
parabens,
seguiremos.
bjs
Lulu & Sol

Ro Malet disse...

Oi Ariel,

Obrigada pela visitinha lá no blog e volte sempre que quiser, serás sempre bem vinda.
Fiquei encantada ao entrar em seus blogs. Já começa pelo nome, muito criativo, Literatura de Boteco, muito bom. E o blog é encantador. Confesso que no inicio que criei meu blog foi com a necessidade de compartilhar coisas de moda, mas estou cada dia mais encontrando coisas bacanas que vai muito além disso, virou um espaço de troca de idéias, culturas, afetos. Fico feliz quando encontro na blogosfera meninas que falam de literatura, arte, música, pq prova que não somos apenas menininhas que só pensam em compras.
Posso até não falar muito disso no meu blog, pq lá é um espaço mais voltado a looks mesmo, mas gosto muito de acompanhar e compartilhar nos blogs amigos. Parabéns pelo blog.
Beijos.

Cynthia disse...

Texto muito inspirador! todos precisamos de uma dose de alegria, ou quem sabe até uma overdose dela. Eu gostaria!
Beijos e ótimo fds!!
Cyn.

http://gavetafeminina.blogspot.com